À procura de MR

Nei Rafael Filho

A agência bancária foi aberta. Passaram da porta giratório, adentrando o caixa três homens. Todos com o mesmo rosto. Um rendeu o guarda, os demais, extremamente precisos, trataram de fazer a limpa na boca dos caixas. Agiram com tanta precisão! A grande conquista é tornar fácil uma realização difícil. Tudo é calculado. O erro é submetido à prova de acerto!

- Mais depressa guarda! Ninguém está afim de pegar cana! – gritou o integrante mais alto do trio.

Era para o segurança desligar o sinal de circuito de TV. O aparelho teria de operar retransmitindo a gravação do dia anterior para a central de segurança.

No holl da agência, de subido e interrompendo os atos, entrou a idosa corcunda, pedindo ajuda para mexer no computador porque eracega de um olho. Ameaçava ir ao PROCON, aturdindo a estagiária na máquina de atendimento eletrônico caso não conseguisse sacar o benefício do INSS.

- Eu sei que é pouco! Mas é meu dinheiro! O governo rouba e nos dá isso para passar o mês! – gritava ao pé do ouvido da atendente.

A moça disse ser impossível atendê-la, o banco não era conveniado àquela autarquia, o Instituto Nacional da Seguridade Social.

- Mas isso é loucura! O que estão pensando! Trouxe até o cartão do IENEPEÉSSI ! Tenho cinco gatos pra dar comida! Vou chamar a imprensa! - berrava, batendo com o guarda-chuva na mesa de centro usada pelos clientes para escrever nos envelopes “pagamentos” ou “depósitos” para logo após enfiar para dentro das automáticas.

De volta ao caixa, os três rapazes usando máscara “Cristo Pop” do filme “Dogma” retiraram de dentro das sacolas destinadas ao dinheiro roubado vários objetos de borracha em forma de salsicha. Puxaram o lacre e os artefatos começaram a inflar.

- São perfeitos, nem dá para acreditar! Se parecem com gente de verdade! – comentou o de menor estatura.

Em segundos o local se encheu de bonecos infláveis em posição erguida, confundido a cena do local. Os três homens deixaram a agência, educadamente, agradecendo a presteza do gerente, deixando sobre a mesa de trabalho uma caixa de Ferrero Rocher.

Saíram os quatro, um a um, sem poupar maneios e trejeitos. Eram bons intérpretes deles mesmos. O quarteto, os três e a velhinha. No carro, pilotado por um homem de feições sulcadas, e na ocasião estava sisudo ao volante, partiram sem alarde, em meios aos tonitruante ameaçador zunido das sirenes da polícia ativada. Na fuga, permaneceram calmos, com o rosto desfeito das máscaras, e a velhinha, tirando a peruca, jogou a cabeleira para trás, revelando uma mulher de escandalosa beleza.

Ao chegarem em casa, refúgio seguro, os quatro puseram as sacolas dentro de uma geladeira com design antigo. Esse tipo de desenho industrial das geladeiras antigas, tipo Gelomatic dos anos 1960, hoje recebe a classificação de “design humilde”. Desativada, verde, lascada, tinha na parte superior não um pingüim, mas um ganso, que como os pingüins de geladeira, era de porcelana. Na sala de estar permaneceram silenciosos enquanto aguardavam as primeiras decisões do “vidente”, o motorista das feições amargas. Era para escolherem o destino do dinheiro. Ele sugeriu quatro opções. Ao anunciá-las, o olhar impunha respeito e silêncio absoluto.

A primeira opção: depositar o dinheiro numa conta bancária da rede MacDonald’s. Uma piada. O grupo votou “não”.

A outra opção: despejar o valor no ofertório da Igreja Universal. Dois milhões de reais. O grupo pensou uns minutos, pediram mais cinco para questionar os prós e os contras. Votaram “não”.

Logo depois, a terceira opção: destinar o valor total do saque para “uma associação de bairro”, “de preferência a mais perigosa das vilas abandonadas, esses currais eleitoreiros da cidade”. Nem pensar! O suado dinheiro desapareceria num “zás-trás”. Seria como o boi jogado no poço das piranhas.

A mulher pediu licença para falar. Sugeriu que talvez fosse melhor, ensinar o uso contábil e seguro do dinheiro e observar a formação da riqueza. Os homens se olharam em admiração. Ela prosseguiu o discurso, justificando o perigo que é despejar o dinheiro aos líderes comunitários. Enriquecer do nada os desafortunados é premiar o mais perverso dos vícios de nossa cultura: a vadiagem.

No dia seguinte, depois de uma excelente noite de sono, o Vidente reuniu outra vez o grupo em volta da mesa do café da manhã. Mandou esparramar feijões sobre a mesa.

Síria, a mulher linda, acompanhou as mãos do chefe tratando de espalhar em perfeitos movimentos os grãos de feijão numa indestrutível tranqüilidade.

Sem muita espera, o Vidente de improviso passou a justificar seu apelido.

- Vejo o futuro! – alertou com a voz grave - Minhas mãos vêem e cruzam pedras do caminho.

O grupo, em atenção, esperava a quarta hipótese do destino da fortuna.

- Iremos adotar uma criança. Vamos adotar. Deverá ser uma menina.

Síria deu um salto. Isto não está certo, combinamos permanecer em cinco e assim deverá permanecer. Depois falou Sêneca, o pensador do quinteto. Falou Chico Harpo, o hábil e opinou, enfim, Peter O’tool, o mais alto e bonito dos homens.

- Vocês! Quietos! Não brinquem com o destino! É uma força indomável! – asseverou o prestidigitador.

Síria começou a chorar. O Vidente lembrou-a de sua condição estéril. Refrescou a memória dos demais: Chico Harpo, queria ser médico. O’toll, escritor e Sêneca almejava reger as grandes orquestras. A mulher, embora fosse linda, com rancor saiu despejando palavras ácidas para cima do Vidente.

Ela interpelou esbravejando:

- Você se acha o melhor! Consegue ver o futuro e planeja nossos destinos. Então responda: se nós quatro aqui somos uma quadrilha de frustrados, se você sabe da nossa dor, diga quem é você!

Num silêncio tumular, ele fez uma volta em torno da mesa. Com o olhar lânguido e voz firme ao falar, afinal respondeu:

- Eu sou.

E só. Foi dito deste modo, para compreender tão somente. O inverno se aproximava. Planejaram uma nova investida na riqueza de terceiros. O próximo ataque seria uma espécie de “tour de force” dos golpes já realizados algum dia.

A angústia do grupo era menos pontuada pela pressão das atividades do ofício de roubar e, cada vez mais inquinadas para o risco, porque afinal, o viés de toda aquela ansiedade significava terem de se superar a cada novo empreendimento.

- Chico Harpo um dia perguntou se seriam pegos. Se algum dia iriam “cair”.

Nem toda pergunta o Vidente respondia. Mas deixava por escrito a resposta.

Numa manhã iluminada, Síria ao partir ao meio um suculento melão, reparou um papel dobrado entre as sementes no interior da fruta.

- “Jamais cairão, desde que não queiram a riqueza para si.”

Síria e O’tool se gostavam. Sêneca e Síria se desejavam. Síria e Chico Harpo se amavam. Ela era a mulher de três. Eles a tratavam como única alternativa para superar o vazio permanente nas mulheres belas, sempre invertendo as coisas, confundindo, mas dispostas ao sacrifício por uma causa. Síria, no pacto selado, era a única mulher do mundo. O Vidente jamais tocou em mulher. E o quinteto jamais se ofendiam. Ela era dos três homens. Organizava os mapas e os roteiros de estudos além de competir-lhe elevar os ânimos, encorajar e satisfazer suas latentes desejos.

Após um jantar esplêndido, o mentor do grupo anunciou a ordem para o dia seguinte:

- Está se aproximando a hora de irem à procura da bebê menina.

O grupo obedeceu. No final de uma tarde, quase noite, Síria chegou carregando nos braços uma menina de alguns meses enrolada em lençóis e cobertores.

- O nome será escolhido pelo Vidente.

Ele não se pronunciou. Foram todos dormir. Chico Harpo, o hábil, cuidou dos papeis e das economias para a educação da filha. A menina era chamada de “filha”. Dormiram os três homens com Síria. Um a um. Depois à sós, a mulher foi alimentar a pequena. Cuidou do sono, do conforto, deu carinho ao bebê.

- Qual o nome, Vidente? Qual é o nome da nossa filha?

Mas ele advertiu: era cedo para esta preocupação. Quando ela foi grande o suficiente para compreender as coisas, então ela escolherá o próprio nome. Por enquanto, foi ordenou ao quarteto estudarem informática, lógica e dois idiomas, o inglês e o mandarim, a língua dos chineses.

Estes estudos eram necessários para invadir senhas e penetrar nos segredos de estado. Fizeram isto.

Aprenderam a manejar segredos de governo, desativando bombas, inutilizando ogivas e ordenaram o mundo cuidar da população, da água e das imagens em permanente feiúra. Nosso mundo tem de ser bonito com é a face de Síria.

Entretanto ela ficou mais velha, porém aprendeu a conservar a beleza, oferecendo generosas explicações sobre os fatos da vida para a pequena.

- Qual dos quatro tios será o meu pai? – indagava a filha com uma lágrima na voz. Mamãe Síria ofereceu escolha livre. Mas o Vidente disse “não”. Ele não poderia ser o pai. De jeito algum. Esbravejava conceitos metafísicos da existência, como por exemplo de ele “não possuir o cheiro da humanidade”.

Enquanto a menina crescia e tudo em permanente movimento no universo, outro serviço apareceu. Os quatro ganharam a missão de ingressar no Congresso. Era para dar fim em sete políticos. Depois, mais sete. E, mais outros sete. Aí parariam. A missão estaria concluída. Agiram e fizeram o serviço.

A imprensa, chocada, não soube informar as mortes e os desaparecimentos para o delírio da comoção nacional.

- Vidente! – gritou O’toll de seu quarto, visivelmente embriagado, numa noite tempestuosa - Nossas reservas! Diga-nos! Nossa fortuna! Quando iremos usá-la? Estamos envelhecendo e nem aproveitamos a vida ainda!





Sem obter resposta, o trio masculino foi surpreendido por bilhetes encontrados dentro do cano de suas meias penduradas no varal.

Aqueles escritos diziam de tudo. O importante foi a despedida de seu líder. Ele partiu para um lugar desconhecido, Xanadu. O grupo teria de se desfazer. Cada um tomaria rumo próprio, ou nem isso fariam. A menina, no entanto, seria entregue à adoção do Estado.

Síria, naquela ocasião soube manter a serenidade.

- Vamos fazer o seguinte. A menina ficará conosco. Eu me proponho a casar com um de vocês. Mas permaneceremos os quatro, juntos. E, seremos em cinco, com a menina.

Então foram ver a menina. Não estava no quarto. Partiu com o Vidente.

- Mas ele falou em adoção do Estado. Vamos raciocinar! O que aconteceu? – indagou Harpo.

Síria ficou num pavor sem conseguir para manter a serenidade. O desespero adentrou suas entranhas, músculos, nervos, se situou em pedaços, e era a serva dos três homens, “os três desconjuntados”, como gostava de afirmar, mas isso não bastava! Naquele momento de extremo pavor não parou de repetir: “Quero minha filha de volta”.

De volta ao ponto de origem os quatro cuidaram estabelecer a ordem das coisas ditas pelo chefe. Órfãos, foram à geladeira da fortuna e a perceberam vazia. Ele partiu com a fortuna de anos! E levou a menina! – exclamaram.



Síria, com o rosto amassado de tanto chorar, gritou:

- Fomos abandonados! Abandonados e agora sem recursos! Sêneca!, gritou.Você é o pensador, ache um jeito!

Na manhã seguinte se separaram.

Nem tão jovens, nem tão idosos, tinham com certeza força nas pernas. Peter O’toll foi atrás de seu sonho. Sêneca fez algo parecido. Chico Harpo e Síria decidiram procurar um cartório para oficializar seu casamento. Ele cuidou da fertilidade da mulher. O marido explicou sobre as terras coberta de sal na Bolívia. Ainda assim, em solo salino, nascem plantas arbustivas no lugar. Ela cuidou de tudo para dar coragem e inspiração ao homem escolhido, ajudando-o nas artes da cura, seu esposo e amante eterno, agora médico. De algum modo particular, genuíno e bem acabado, todos os quatro souberam remover os pavores e aflições do mundo. Ajudar as pessoas, e “diluir o veneno espalhado desde tempos imemoriais”, como ensinou o Vidente, na época dos primeiros trabalhos. É possível estar enganado, mas o último gesto praticado pelos intrépidos destituídos da fortuna e da menina adotada, embora nem tão ousado, verdade seja dita, fosse decidir ir ao encontro, ainda que tardio, da trilha do paraíso deixada pelo mentor de todos aqueles anos. A escolha de seguir em frente à procura de Mister Xanadú reinventou a própria sorte do quarteto. Tudo recomeçou dentro denma pizzaria do Bairro Menino Deus. Síria chamou a atenção para o pizzaiollo, alto, elegante, e mesmo no meio de tanta farinha solta no ar, permanecia limpo e sereno como um monge. Discretamente,os quatro trocaram de mesa duas vezes, confundindo o garçom, um jovem educado, para reunirem-se muito próximo ao forno à lenha. Era ele, o guia. Sêneca chorou. O’tool riu. Síria cruzou os braços e Harpo fez que não viu. Perguntaram pelas coisas, como iam as coisas, onde estava a menina, queriam muito vê-la, tocá-la. O Vidente puxou as pizzas para o lado menos quente do forno. Justificou suas artes, para evitar a massa da pizza fora do ponto.

- Usamos a melhor lenha. Verdade. O segredo é a fonte do calor – disse com a voz firme.

E Síria foi direta:

- Onde ela está? Que nome você deu a ela?

Os amigos tentaram acalmá-la.

O silêncio estabelecido entre os cinco reuniu a própria idéia da forma de final feliz da história dos cinco, dos quatro, dos três, dos dois, de um só que eram cinco ao mesmo tempo, eles, o quinteto, inteligentes, audaciosos, românticos e proibidos ao senso comum, às legislações e aos bons costumes.

- Não os deixarei sem respostas – assegurou o mentor vidente – ela está bem. Cresceu. Está linda. Só estou aguardando mais maturidade, mais crescimento...

- Então? O que pretende? – indagou O’Tool? E, os demais, fizeram a mesma pergunta.

O Vidente riu. Disse que não era o que estavam pensando, ou o que poderiam estar deduzindo. Jamais tocaria na moça. Jamais tocaria em mulher alguma!

- Vou educá-la, apenas. E me retirar. É só.

Sêneca o chamou de arrogante. Queriam saber para onde. Harpo, o lógico, costumava dispor das palavras:

- Retirar lembra retiro.Ir para algum retiro. O senhor vai para algum retiro?

- Vou embora e serei esquecido. Vocês irão se separar. Aliás, já estão assim. Desde o casamento de Síria com o médico... bem, vocês de modo algum são os mesmos!

Outra vez o silêncio rondou o quinteto. Ele, o guia, falava movimentando com a pá de madeira os discos de massa recheados de mussarela, tomates e pescados, entre achas de lenha em brasa e paredes de tijolo refratário.

- Então deixe a menina conosco – clamou Síria.

E tratou de respondeu de imediato.

- Vocês ficarão com ela. Mas...

- Mas...

- ... terão de explicar o que fizeram ao longo de todos esses anos... os seqüestros de milionários traficantes, a morte de políticos corruptos, os assaltos aos bancos fraudulentos, e toda aquelas vezes que entraram nos computadores dos governos para esclarecer desvios de verbas e compra de campanhas. Vão dizer sim. Tudo. Tudo! – repetiu com gravidade.

- Mas com que finalidade! Como iremos fazer isso!

- Façam.

E fizeram. Cautelosa e graciosamente. Contaram suas histórias fantásticas para diversos jornalistas. Deixaram as provas. Jamais os rostos, fotos com os rostos, ou os nomes verdadeiros ( em segredo, o Harpo, na verdade se chama Antônio Casemiro ). Foi o modo que encontraram, foi sugestão de Sêneca. Alguém há de ler e levar a sério. Talvez anônimos errantes venham a formar no futuro um novo quinteto, ou quarteto. Talvez a menina viesse a se tornar a nova guardiã, a nova Vidente – pelo menos, tinham algo em comum, ele e ela não tem um nome! Tudo é possível em nome da diluição do veneno milenar.

Guerra

Volnei Zerbielli

Os generais no campo de batalha posicionam suas tropas.

A infantaria esquivamente infiltra-se nas defesas do inimigo, enquanto a artilharia posicionada aguarda a ordem de disparo.

O tiro foi dado.

Só o que se ouve é o zunir do vento provocado pelo projétil em alta velocidade cruzando o céu.

Angustiadas, enquanto isso, milhares de almas silenciadas pelo acontecimento aguardam e observam aflitas, o cruel desfecho.

O projétil atinge o alvo em cheio, destruindo tudo o que se levou muito tempo para se construir.

As almas, antes em silêncio, agora gritam desesperadamente.

Goooooooooooollllll.

Tiro ao Álvaro

Volnei Zerbielli

É impressionante como em certas situações, numa simples troca de olhares, as coisas mudam. Não importa onde você esteja, seja caminhando pela rua, sentado numa mesa de bar, no seu local de trabalho, atendendo um cliente. É fatal, em algum momento a troca de olhares sempre acontece. Geralmente você atrai os olhares, quando a sua aparência chama atenção ou pelo desleixo ou pelo seu charme e elegância. E se for pelo charme e elegância, melhor, pois o mundo passa a te olhar com outros olhos, ou pelo menos, de maneira bem diferente da usual. Esses olhares carregados de expressão, muitas vezes, parecem disparar flechas ao nosso encontro. E...

De tanto levar frechada do teu olhar...
Meu peito até parece, sabe o que?
Taubua de tiro ao Álvaro, não tem mais onde furar.

Realmente, dependendo da situação em que nos encontramos, e de quem nos olha, é exatamente assim que ficamos, todo perfurado, parecendo uma peneira. E sem contar que às vezes, esse...

Teu olhar mata mais do que bala de carabina
Que veneno estriquinina
Que peixeira de baiano

Mas que olhar fulminante, arrasador, sem dó e sem piedade. Olhares assim, só nos são agradáveis quando disparados pelo ser, que nos é objeto de desejo, que nos paralisa, deixando-nos embasbacados, sem ação e reação, perdendo o rumo, completamente perdido. Aí chegamos à conclusão de que realmente o...

Teu olhar mata mais
Que atropelamento de automóver
Mata mais que bala de revórver

E convenhamos, que maneira mais agradável de morrer, um disparo certeiro, fulminante, devastador, de um simples olhar. Gostaria de morrem assim todos os dias a todo instante, cada vez que o teu olhar com o meu se cruzar.

ROTA 66

Volnei Zerbielli

A oficina ROTA 66 não era apenas conhecida pela analogia, pelo menos daqueles que liam o letreiro pendurado na entrada, à famosíssima interestadual norte americana, mas pela excelente qualidade dos serviços que lá se realizavam, inclusive nos estrangeiros, pelos irmãos Meia-Roda e Meia-Boca.

Nessa oficina, assim como na famosa estrada, passavam por ali belíssimas máquinas, tanto as mais antigas que levam qualquer um a voltar no tempo do início da era do automóvel, nos remetendo a uma belíssima nostalgia, como as mais modernas, que fazem qualquer criança de 12 anos se tornarem um campeão das pistas. Tamanha a facilidade de se guiar um carro desses cheios de tecnologia.

Sabendo desses quesitos o Sr. Stewart, grande corredor da década de 60, levara a sua Masserati 1967 para que fosse acariciada pelos irmãos. Ela estava precisando de uma afinação, aquele motor V6, na gíria dos mecânicos, estava meio quadrado, dava um vácuo na aceleração, algo estava falhando.

Resolvido o problema o Sr. Stewart foi dar uma volta, experimentar para ver como ficou o seu brinquedo. Ficou boquiaberto. Nunca tinha corrido tanto de carro em sua vida, mesmo nas pistas, como ele correu naquela voltinha de ida e volta até o pedágio de Osório. Os 260 cavalos de potência do motor empurraram aquela belezinha à 285km/h. Como dizem os aficionados, literalmente trancou os ponteiros.

Voltou à oficina e disse aos rapazes, que eles eram loucos, perguntou o que fizeram no carro, pois tinha ficado um espetáculo. Pagou a conta com muito gosto, até queria dar mais uma gorjeta, mas os rapazes recusaram dizendo-lhe que a melhor gorjeta que eles poderiam receber era a inteira satisfação dos seus clientes. Ouvindo isso o Sr. Stewart disse que traria muitos amigos ali, e foi o que fez.

O Sr. Ferrari, aconselhado pelo seu amigo Stewart, levou até a oficina ROTA 66 o seu Buick 1958. Comentando com os rapazes que achou muito interessante o nome que deram para a oficina, disse que lá nos Estados Unidos, onde andou de Buick pela primeira vez, foi numa estrada chamada de ROUTE 66. Essa estrada é uma interestadual muito famosa por lá que atravessa o país de um lado a outro com os seus 3755 km, que seria o mesmo que ir de Porto Alegre até Aracajú.

Mas o Sr. Ferrari ficou espantado quando soube que os rapazes não conheciam e muito menos tinham ouvido falar nessa tal estrada. Intrigado, perguntou então como surgiu, para eles, o nome ROTA 66. E foi quando obteve a resposta.

Reparadores Obstinados Tarados por Automóveis Meia-Roda e Meia-Boca.

De quando algo mudou

Gabriela Vargas

Sempre quando se fala em primeira vez é normal lembrarmos do nosso primeiro beijo, do primeiro namorado, da primeira transa; porém, existem primeiras vezes tão sutis que, muitas vezes, quase passam despercebidas. Interessante também é quando temos um período de contínuas primeiras vezes na nossa vida. Tantas e tão diferentes que chegam a estontear.

Lembro que ano passado, enquanto passava as férias de julho no Rio de Janeiro, na casa da minha tia, soube que minha avó estava na UTI em Porto Alegre. No começo, não me preocupei muito, pois fazia poucos dias que eu havia viajado e ela ainda estava bem, no entanto, aos poucos fui vendo que a situação era mais complicada do que eu imaginava. Um tempo se passou e ela faleceu. Morreu e eu não me despedi, pois estava no Rio. Então, a partir daquele dia, tantas primeiras vezes aconteceram na minha vida que fico impressionada somente por relembrá-las e senti-las tão pulsantes dentro de mim.

Aquela foi a primeira vez em que eu não queria voltar para casa. Sentia uma mistura de medo e impotência. Não queria chegar ao aeroporto e receber abraços entristecidos e tão fracos quanto eu. Desejava com todas as minhas forças continuar ali, de férias, fingindo que nada havia acontecido, brincando nas dunas com o meu primo e me bronzeando na praia. Aquela foi a primeira vez que eu olhei para a minha tia como se pedisse para ela pegar a minha mão, me tirar daquele aeroporto e me levar pra sua casa. Isso não aconteceu. Então, pela primeira vez, fui chorando do Rio de Janeiro à Porto Alegre, querendo que o avião nunca chegasse, que mudasse de rumo ou caísse de uma vez. Nada aconteceu... Eu não podia mudar os fatos.

Raiva! Cheguei, recebi os tais abraços e senti como se tivessem tirado parte de mim. Pela primeira vez percebi de imediato que havia ocorrido uma mudança realmente grande na minha vida, daquelas como cortar o cabelo bem curto, mudar de cidade ou perder alguém amado.

E eu perdi...

Com certeza, essas não foram as primeiras vezes mais felizes e especiais da minha vida, mas como toda primeira vez, foram inexperientes e, consequentemente, geradoras de, no mínimo, um pequeno amadurecimento.

E pensando bem, quem nunca teve uma primeira vez semelhante? E quantas ainda não estarão por vir?

Meu primeiro apartamento

Luiz Eduardo Amaro

Há seis meses, disposto a conceder-me a privacidade que meus trinta e cinco anos vinham reclamando há tempos, troquei a casa de meus pais por um apartamento em Petrópolis. O imóvel, se não era grande coisa, era grande o suficiente para acomodar minhas roupas, meus livros e uma velha bicicleta ergométrica, usada mais como cabide do que como ferramenta para a boa forma.

O edifício de três andares não tinha elevador, o que me parecia vantajoso: tornava o condomínio mais barato e ainda obrigava-me a subir dois lances de escada ou trinta e quatro degraus. Isso me aliviava o peso na consciência de usar a bicicleta ergométrica apenas como cabide.

No caminho para o 302, meu apartamento, passava pela porta do 102, onde vivia dona Olga, do lar, como ela própria se definia, e mãe de dois jovens de futuro incerto. Seu Osvaldo, o marido, era funcionário público aposentado. Tinha mais de sessenta e andava quase sempre com um abrigo cinza claro de moletom, desses que se compra em lojas populares.

Típica classe média dos grandes centros urbanos, dona Olga se desdobrava para dar um mínimo de conforto e poder aquisitivo à sua família. Não se podia negar o brio com que levava a cabo sua tarefa. No entanto, sem receber o reconhecimento dos outros membros da família, tratava de granjear, ela própria, o reconhecimento dos vizinhos no cumprimento de seus deveres como dona de casa.

Nesse aspecto, eu era tudo de que dona Olga precisava: formado em economia, pós-graduado em finanças, novo no edifício e morando sozinho, passava duas ou três vezes por dia na sua porta, reunindo todas as condições para servir-lhe de escada.

- Como vai? Eu sou a Olga, do 102. O senhor é o novo proprietário do 302, não é? – arriscou, quando me encontrou pela primeira vez no corredor. Tão logo afirmei que sim com a cabeça, ela indagou: – Quanto pagou pelo apartamento, se não se importa?

Embora ainda nem soubesse seu nome, achei que ser receptivo fazia parte do manual de etiqueta dos novos proprietários.

– Paguei 120 mil.

- É que compramos o nosso no ano retrasado. Pagamos 108. Tu vê, uma boa diferença: doze mil reais.

Eu poderia ter argumentado que apartamentos localizados em andares mais altos geralmente valem mais. Além disso, o meu tinha tabuão, enquanto o dela, pelo que pude ver pela fresta da porta, tinha uma forração surrada de cor indefinida. Mas o que é que dona Olga pensaria de mim? Preferi sorrir e dizer-lhe o que ela queria ouvir:

- A senhora fez um excelente negócio.

Depois, continuei subindo em direção ao meu apartamento, enquanto ela dava um até logo.

No mês seguinte, com a aproximação do inverno, resolvi colocar uma janela de alumínio na área de serviço, o que iria aumentar meu espaço disponível e facilitar a instalação da nova máquina de lavar roupa.

- O senhor mandou fechar a área, é? – perguntou-me ela na portaria do edifício, já sabendo a resposta. Depois de eu ter confirmado, ela indagou: - Quanto lhe custou?

- Seiscentos e cinqüenta, em duas vezes – respondi.

- Meu Deus, que caro! No ano passado trocamos a janela da nossa. Consegui por quatrocentos e cinqüenta.

Eu poderia ter argumentado que, em um ano, apesar da inflação estar sob controle, o alumínio havia subido muito, impulsionado pelo crescimento exagerado da China e da Índia, dois países que vinham comprando toda e qualquer commodity que estivesse sobrando no mundo. Também poderia ter dito que o Brasil, gigante adormecido, parecia estar se movendo um pouco mais rápido, depois de muito tempo, principalmente na construção civil, o que poderia estar contribuindo para o aumento de materiais relacionados a esse ramo. Mas o que é que dona Olga entendia disso?

Preferi dizer-lhe o que queria ouvir: “Muito bom negócio” e tratei de seguir para o meu apartamento.

Em setembro, detectando que uma das portas internas estava com cupim, resolvi trocá-la. De porta nova e disposto a manter a política da boa vizinhança, fui abordado, mais uma vez, por dona Olga:

- Vi tua porta velha, disse ela. – Tomada de cupim, não é? “Pois é”, falei. “Coisa difícil de perceber quando se está comprando um imóvel no inverno”.

Dona Olga pareceu não escutar minha justificativa, ansiosa por encaminhar a pergunta que eu já sabia que viria.

- Quanto está uma porta nova? – indagou. Confesso, sinceramente, que me deu vontade de chutar a metade do preço que havia pago. “Mas por que faria isso?”, pensei comigo mesmo. E falei a verdade: quinhentos reais.

Dona Olga torceu levemente a boca, como se dissesse “Pobre rapaz!” E continuou: “Há pouco mais de um ano, trocamos três portas internas. Conseguimos por mil reais. E para pagar em três vezes!”, enfatizou ela, apontando-me três dedos da mão direita.

Eu poderia ter-lhe dito que não tinha nem tempo nem paciência para andar correndo atrás de portas internas. Ou poderia dizer-lhe simplesmente que a minha, com certeza, era melhor que as dela. Ou pior: poderia ter-lhe devolvido que, já que ganhava bem mais que a família inteira dela, dava-me o direito de achar que quinhentos reais estava bom. Mas o que dona Olga pensaria disso?

Tentei sorrir e balbuciei um bom negócio, antes de subir os trinta e quatro degraus até meu apartamento. Dona Olga assentiu e, fechando a porta orgulhosa, desejou-me boa noite.

Alguns dias depois, quando saía do edifício, fui abordado na calçada por dois meninos com quatro bandejas de reluzentes morangos. Ofereceram-se cada uma por um real e cinqüenta centavos ou as quatro por cinco reais. Parecendo-me que os frutos eram sadios e os meninos, honestos, fechei o negócio na hora.

Convencido de que havia feito uma boa compra – uma bandeja daquelas não saía por menos de dois reais e cinqüenta centavos -, já ia subir para guardar os morangos, quando vi dona Olga retornando da feira que ocorria toda quinta no nosso bairro.

Não pude deixar de me assanhar com a possibilidade de mostrar a ela que eu também sabia fazer bons negócios domésticos. A quantia envolvida não era grande, mas era o valor simbólico da transação que importava.

Esperei-a na calçada com um sorriso maroto nos lábios. Ainda mais quando vi que em cima da sacola de plástico vinham duas bandejas de morango cuidadosamente arrumadas para que os frutos não fossem amassados.

- Bom dia, dona Olga.

- Bom dia, seu Márcio, respondeu ela, já mirando meus morangos.

- Vejo que tivemos a mesma idéia!

- Pois é, respondeu ela. - De onde tirou esses morangos?

Antes de dizer-lhe de onde havia tirado as frutas, já fui avisando-a, com o sorriso ainda no rosto:

- Dona Olga, acho que fiz um bom negócio desta vez. E sem precisar ir muito longe de casa! Assim que saí do edifício, dois meninos me ofereceram estes morangos! Comprei as quatro bandejas por cinco reais. Vou ficar com duas e levar as outras duas para minha mãe fazer uma torta.

- Ah, seu Márcio - disse dona Olga, colocando a mão sobre a boca, numa expressão tão falsa de lamento que mal conseguia esconder sua faceirice. – Os produtores estavam distribuindo essas bandejinhas de graça na feira. Cada pessoa podia pegar duas. Era só assinar uma lista, em apoio à luta deles por mais crédito para a agricultura. Que pena! Se o senhor andasse mais duzentos metros, não botava seu dinheiro fora.

Lembro-me de ter procurado, naqueles décimos de segundo em que se fez silêncio, alguma coisa espirituosa para falar, mas não havia jeito: naquele teatro, naquela tragicomédia encenada regularmente no coração do bairro Petrópolis, quisesse eu participar ou não, a mim sempre estaria reservado o papel de otário. À dona Olga, o de heroína.

Já estou até pensando em colocar meu apartamento à venda. É lógico que, para dona Olga, vou fazer outro mau negócio.

Da Vez Primeira em que Fui Esquiar

Lauren Davi

O sono quentinho debaixo das cobertas estava muito bom, e lá fora ainda escuro. A neve caía como flocos de açúcar, e o vento corria pelas ruas como fosse o dono do lugar.

O alarme do relógio me desperta, barulhento. Sem pensar duas vezes, levanto-me num salto. Levanto-me, mas não acordo. Isso mesmo – estava na hora de sair da cama, mas era cedo para despertar.

Ainda no modo automático, com o cérebro em stand-by, dirijo-me ao banheiro, abro a torneira, a água que sai está perto do ponto de congelamento. Lavar o rosto não seria uma experiência agradável, mas paciência, pelo menos assim o cérebro acorda, no susto.

Apressada, apanho a mochila, calço as botas de neve e visto o meu casacão modelo esquimó. Desço as escadas rapidamente, sem fazer barulho. Um café da manhã rápido, estilo canadense – panquecas com xarope de bordo. Delícia.

Hora de sair. Luvas nas mãos, gorro na cabeça, cachecol cobrindo o nariz. Lá fora, Toronto despertava lentamente, como se a cidade inteira estivesse dando um grande bocejo.

Eu, como uma criança, caminho chutando a neve, brincando com aquela coisa branca tão linda que ainda era novidade para mim. Cruzei a Avenida Silverton, entrei na Rua Invermay e segui em direção à Avenida Wilson. Qualquer canadense que passasse por mim ficaria imaginando que tanta graça eu achava em ver a neve precipitando-se. Deveria ser tão divertido quanto ver a chuva caindo em pleno sertão nordestino.

O ônibus veio lotado. Desci na estação York Mills. O metrô também veio lotado. Na estação Eglinton, desço e encontro alguns colegas brasileiros, todos muito empolgados com a aventura do dia. Caminhamos juntos até a frente de nossa escola, onde alunos de todas as partes do mundo aguardavam o school bus amarelo que nos levaria até o Horseshoe Valley Ski Resort, na cidade vizinha de Barrie. E o vento soprava gélido, amortecendo nossas faces.

A viagem até Barrie foi tranqüila. Ao chegarmos à estação de esqui, um instrutor sobe em nosso ônibus e dá as primeiras orientações. Assustei-me somente ao pensar nos eventuais acontecimentos que levaram o resort a exigir seguro-saúde de todos que lá se aventuravam. Mas já que eu estava lá, iria encarar qualquer desafio.

O primeiro desafio foi calçar as botas de esqui, dois trambolhos cinza chumbo, pesados e nada flexíveis, seguidos de umas quinhentas tramelas para fechar a bota corretamente. Saí andando dura e desajeitada como o Robocop, passei em outra salinha onde me alcançaram os esquis e os ski poles (aquelas duas hastes que você segura na mão, que ora ajudam no equilíbrio, ora facilitam a queda).

Equipada, segui para uma aulinha básica. O instrutor experiente fazia tudo parecer muito fácil, mas tanto a Lei da Inércia quanto a força g pareciam conspirar contra todos nós. Sobre os esquis, andamos em círculos, freamos, demos a volta. Até ai, tudo bem.

O próximo passo era subir um declive, andando de lado no estilo caranguejo. Falar era fácil, difícil era coordenar-se. Mão direita, pé direito, mão esquerda, pé esquerdo, e aos poucos eu fazia progresso. No final do declive, outro instrutor experiente que esquiava de ré e de costas para o declive fazia-nos parecer otários – mal conseguíamos ficar em pé.

Mas a tarefa era simples: descer o declive, virar à esquerda, depois à direita, e frear. O japonês que foi primeiro estava indo muito bem até dar uma guinada em nossa direção e fazer um strike com a galera. E, para piorar a situação, tinha chegado minha vez.

Respirei fundo, e fui. Desci reto como um foguete, tendo pouco ou nenhum controle sobre minhas pernas. Meus esquis foram entortando para a esquerda, fui fazendo a curva. Atrás de mim, ouvia o instrutor gritar, “To the right! To the right!” mas eu continuava virando para a esquerda. O coração disparado já previa a tragédia. Um esqui entrou na frente do outro, dei um giro de 360 graus e fui de cara na neve. Fracasso total. E ainda por cima eu não conseguia levantar por causa do peso dos esquis.

Quando pensei que teria que refazer o exercício, olho para o instrutor com uma cara de ponto de interrogação, esperando que ele dissesse para eu voltar. Mas, para meu espanto, ele faz sinal de positivo com a mão e grita “Very good! Go ahead!”. “Como assim?”, pensei. “Eu desço rolando declive abaixo e ele diz que foi bom?”

Mais tarde, parto para a pista principal. Uma carona de teleférico até o início do declive parecia uma boa idéia. Junto com uma colega, subimos em uma daquelas cadeirinhas que nos elevavam acima dos pinheiros cobertos de neve. A vista era linda.

Com os esquis em posição, preparo-me para descer. Como já não bastasse a dificuldade da situação por si só, a cadeira do teleférico ainda dava um empurrão extra em quem descia dela. Mal encostei os esquis no chão e já escorreguei para o lado, dando um nó nas pernas e caindo de boca aberta na neve. Já era o segundo tombo.

Já pensando em qual seria o equivalente canadense a um tubo de Gelol, me preparo para a primeira descida. Foi então que inaugurei uma nova unidade de medida - Quedas por Metro. A cada dois metros uma queda bastante doida. A questão do seguro-saúde começou a fazer sentido.

Minha última queda foi a gota d’água. Caí de barriga na neve, que era dura como concreto, quase deslocando o ombro. Meus pés torcidos para o lado evitavam que eu me levantasse. Frustrada, zangada e morrendo de vergonha, fiquei lá deitada até que dois gentis esquiadores viessem me ajudar.

Auxiliaram-me a levantar e me ofereceram uma garrafa d’água. Agradeci, disse que estava bem e fiquei lá sentada com cara de tacho. Resolvi descer o resto do declive a pé, carregando nas costas os esquis. “Não acredito que desperdicei cinqüenta dólares com isso!”, esbravejei.

Depois de dar um tempo na lancheria, voltei com todo o gás, decidida a aprender a esquiar. E continuei caindo. Caí de lado, de bunda, de cara no chão, em cima de um colega, caí até quando estava parada no mesmo lugar.

Naquele dia, aprendi uma nova expressão idiomática. Toda vez que eu caía, algum infeliz passava do meu lado e dizia “You’ll get the hang of it!!” Eu não sabia que “pegar o jeito” seria tão doloroso. Porém, entrara em cena meu desejo de superação, e desisti de desistir.

No final da tarde, havia quem dissesse que eu já esquiava há anos. Eu mesma, a brasileira que vira a neve pela primeira vez, agora esquiando! Em alta velocidade, cortava a neve com destreza e, nem mesmo desacelerando, entrava novamente na fila do teleférico em um golpe só. E sem atropelar ninguém, como fez aquele japonês.

Talvez seja por situações como essa que dizem que brasileiro não desiste nunca. A regra é a persistência – sempre dar um “jeitinho”, ainda que seja no meio da neve, que agora tinha mais graça do que nunca.

Olhar animal

Luiz Eduardo Amaro

Observou-a com olhos de lobo.
Aproximou-se com olhos de lince.
Atacou-a com olhos de águia.
Suplicou-lhe com olhos de poodle.
Retirou-se com olhos de burro.
Ela nunca assistia ao Animal Planet.

Salto alto

Hélade Lorenzoni

Às vezes
Meu macho interno
Quer ser travesti.

Agridoce

Vicente Saldanha

O rapaz entra no restaurante, senta-se junto à janela e deixa a mochila na cadeira. O suor lhe escorre pela testa. Inspira o ar refrigerado enquanto a música oriental preenche o ambiente. Procura o cartaz familiar ao fundo do salão, levanta-se e vai ao banheiro.

Serve o prato no buffet, senta-se e come lentamente, a música suave embalando-lhe a mastigação distraída.

No caixa, a dona mexe alguns papéis. Um menino de uns cinco anos brinca perto dela, fala sozinho em língua estrangeira e caminha para longe e perto. Por vezes, a criança pergunta algo e a mulher responde com monossílabos na língua nativa dos dois.

Ela atende um cliente, esboça um sorriso tímido e lhe dá o troco com uma leve deferência. O menino imita o gesto, sorriso aberto para o homem que sai.

Durante a sobremesa o rapaz ouve a voz estridente da criança, correndo até a porta do restaurante e de volta para junto da mãe. E então: a mulher ralha com o menino em língua raivosa, olha ao redor e lhe chuta o flanco.

A colher caída ao lado do prato, o rapaz não consegue mais engolir. Uma onda de gosto azedo sobe-lhe do estômago e o pudim fica intragável.

Enquanto ele paga sua conta, nota o menino encolhido atrás da mulher, soluçando, e ela esboça um sorriso tímido e lhe dá o troco com uma leve deferência. Ele olha fundo nos seus olhos, tentando ler amor, raiva, ou tradição. Nada, apenas o sorriso sem convicção e um obrigado tortuoso. Quer dizer algo, protestar, mas as palavras trancadas.

Sai com a mochila no ombro e de cabeça baixa.

João Caolho

Sandra de Almeida Silva

A banca estava sempre cheia de chás. João ficava a maior parte do tempo sentado, lendo com seu único olho uma revista velha ou o jornal do dia. Quando chegava um cliente, largava a leitura com certa relutância, ia afastando o jornal, lendo ainda algumas linhas, até que o largava definitivamente no banquinho ao lado para, só então, atender a pessoa que estava na sua frente. Esboçava um meio sorriso, dizia um pois não e escutava sem interesse o que o cliente falava. O viaduto cinzento abrigava-o da chuva e do sol, porém canalizava o vento nos dias de inverno. Muito magro, João tremia de frio. Não importava quantas camadas de roupa vestisse, o ar gelado atravessava uma a uma, entrava pela pele, até os ossos. Às suas costas, duas madonas de pedra empunhavam tochas que, depois das seis horas da tarde, iluminavam a banca improvisada com caixas de frutas. Ali, de certa forma, sentia-se protegido.

E era por volta das seis e meia, horário de maior movimento de carros e pedestres na avenida que, todos os dias, Ela aparecia. Um pouco antes, João penteava o cabelo, fechava o zíper da jaqueta de nylon, passava uma escova nos sapatos e, intranqüilo, esperava. Se um cliente o abordasse naquela hora, atendia-o com mais pressa que o costume, ou mentia que estava recolhendo a mercadoria e despistava-o para concentrar-se na espera. Ela vinha em passos lentos, como que cansada da subida, em direção ao centro, e ele logo a distinguia, viva e colorida, esgueirando-se entre a multidão opaca.

Como o devoto diante da aparição de uma santa, adorava o movimento gracioso da mulher. Dela nada sabia, nem nome, nem profissão, nem amores, sobretudo para ele nada disso tinha importância. Ela se aproximava, ele a observava, apenas isso. Era o único momento de comunhão, em que podia respirar, talvez, uma partícula do mesmo ar que antes estivera nos pulmões dela, percorrera suas artérias e veias, o coração. No momento exato em que passava na sua frente, Ela erguia os olhos para ele, dizia boa-noite, como vai o senhor hoje, a boca bem feita, o rosto claro, imagem sem mácula, ele respondia bem e a senhora vai bem, instante mínimo.

Nunca se soube ao certo o que houve naquela tarde em que ela não veio e nas outras que se seguiram depois. Já passava das sete horas. João estava impaciente, quando se ouviu uma freada brusca. Um burburinho se formou na esquina com a rua de baixo e João, com o coração apertado, correu também. Uma mulher estava estendida no asfalto, quem sabe morta, meio corpo embaixo de um ônibus. O povo se acercou para ver a cena e ninguém, nem mesmo João, conseguiu reconhecê-la. A ambulância veio, carregou-a, e ele viu apenas um rosto transfigurado, cabelos desalinhados, no chão a poça de sangue, a sirene ecoando na boca da noite.

João voltou para recolher os chás e ir embora, no pensamento a cena da mulher morta se confundindo com o rosto daquela outra que, sem saber, nunca mais verá. Um vento frio percorria a rua, a banca vazia, ervas rolavam espalhadas pelo chão. João encolheu-se, ajeitou os óculos e sentiu doer seu olho esquerdo na órbita vazia.

Lobo Mau

Sandra de Almeida Silva

A criatura se aproximava cada vez mais. A menina tenta correr, sem conseguir sair do lugar, os pés afundando. Tenta gritar e seu grito não é mais do que um mover lento de lábios, sem ar, nem um sussurro. No meio da noite, ela acorda e sabe que o pesadelo apenas está começando, como das outras vezes.

O quarto não está escuro o suficiente para esconder os contornos da porta, onde os seus olhos se fixam como garras. Ela sabe a rotina das outras noites: primeiro o leve movimento do trinco, depois o vão começa a se abrir devagar, a silhueta escura entra e vai se avolumando sem rosto, os braços como amarras, o cheiro forte de cigarro enjoando o ar. A náusea tomando conta do corpo todo. Hoje vai ser diferente, ela diz baixinho, as mãos em concha sobre a boca para ouvir a própria voz.

Os pezinhos dormentes descem da cama e tocam nus o chão gelado e sujo. O corpinho em tremedeira se movimenta com a rapidez de um ratinho fugitivo, passa uma, duas, as quatro camas que a separam da janela e alcança o extremo oposto do quarto. Rosnam os primeiros barulhos do outro lado da porta, a vida batendo dentro do peito, ela faz força com os braços magrinhos, a janela faz um rangido e abre generosa uma fresta. O ar frio invade o quarto e traz com ele uma lembrança branca, nenhum endereço, só pincelada macia de afeto, sabor de leite morno. Ela olha para trás, ainda pode ver a porta mover-se, o sinal da cruz, um pulo apenas, e as asas do anjo abrem-se livres no vazio da madrugada.

Na praia

Margot Villas

Fazia um calor danado. Eu estava sentado sob um guarda sol observando aquele mar azul, quieto, sem coragem de levantar um dedo. Aquela tarde decidi que ficaria dias inteiros sem fazer nada. Nada mesmo. O dia estava perfeito para isto, não queria nem pensar na minha sonsa vida. A areia branca, o céu sem uma nuvem e aquele sol roxo de tão forte formou a moldura para o que aconteceria em seguida: Melissa aparecer.

Caminhando em minha direção como uma doce nuvem em formato de mulher, os cabelos compridos e negros, o biquíni branco, aquele corpo bronzeado logo me tirou daquela sensação maluca. Não era uma nuvem mesmo, as nuvens não possuem seios, nem bundas, nem cabelos.

Quando ela se aproximou, abriu seus lábios e, vagarosamente, mas muito vagarosamente perguntou o senhor têm horas? Fiquei extasiado.

Aquela pergunta mudou o rumo das minhas férias, para não dizer da vida. Todos os dias seguintes do mês de Janeiro, eu levantava da cama, tomava café rapidamente, colocava meu relógio barato e sentava no mesmo lugar da praia, esperando Melissa perguntar as horas.

Felizmente ela apareceu várias vezes e nos tornamos amigos. Até o dia fatídico em que meu mundo caiu. Estávamos conversando sobre banalidades quando um rapaz queimado do sol, alto e musculoso, com aproximadamente trinta anos, chegou por trás de Melissa e a abraçou, beijando-lhe loucamente a nuca descoberta pelo cabelo. Minha dor levaria algum tempo para desaparecer: iniciou quando vi, no rosto dela, a felicidade causada pelo gesto do rapaz. Dor de perda e de inveja, de perda porque depois daquele dia nunca mais Melissa apareceu na praia. De inveja porque o motivo da felicidade não era eu.

No resto das férias, fiquei no meu quarto de hotel olhando para o teto e pensando em Melissa. Será que ela havia comprado um relógio?

Nós duas

Marli de Oliveira

Cheguei em casa à noitinha, cansada depois de um dia atribuladíssimo, sentei no sofá, tirei os sapatos enquanto revirava as almofadas em busca do controle remoto. Na mesa ao lado, um copo com gelo me acenava. Ao final do wisquinho e ainda ao som de Prem Joshua, juntei minhas tralhas e subi, ansiosa por vê-la, ali, no quarto, esperando.

Entramos juntas no banho. Liguei o aquecedor e esperei a água esquentar enquanto a acariciava – ela insistindo em me abraçar. Incrível a sintonia entre nós duas. Uma delícia estar num lugar onde não nos conhecem, porque ali ninguém nos vê, ninguém nos julga, nem condena, nem absolve. Ali somos só nós. Dançamos - ela e eu -, num antigo ritual, muito conhecido por nós duas, e sempre desejado. Ora frenética, ora lenta e abusiva, ela me abraça macio, me lambe o rosto, o corpo, as pernas. E eu, permissivamente, mostro-lhe os caminhos a percorrer, com calma e satisfação.

Agora, jogadas na cama, eu na cabeceira e a ela nos pés, dormimos o sono dos justos. Pela manhã, acordo leve e tranqüila, escolho minha roupa para usar naquele dia, tomo um café, volto ao quarto e vejo minha velha e querida toalha-de-banho, molhada e jogada aos pés de minha cama. Coloco-a na máquina junto com as demais roupas e saio para o trabalho.

E eu com isso?

K.'.I.'.N.'.G.'

Você acorda de manhã, com o sol acariciando seu rosto suavemente, dizendo que aquele seria um bom dia. Seu amor já se levantou e não demora até que traga um belíssimo café na cama, uma gentileza quase diária. Seu filho, já preparado, espera-o para irem à escola juntos, sempre bem animado e disposto. Você pega seu carro, com uma tecnologia que polui bem menos que a maioria, e inicia seu agitado dia.

Fulano(a) acorda com o sol quadrado, dando seu sorriso dourado, anunciando que para ele(a) aquele também era um dia ótimo. Ele caminha lentamente pelos corredores onde seus colegas, agora ex, dormem tranquilamente sonhando com a “liberdade”. Ele(a) vai até a porta de seu cárcere e se despede com um gesto raivoso de seu dedo. Passeia na cidade imaginando como será, quanto tempo durará sua vida ali fora, e de repente, como se o destino tivesse conspirado à seu favor, ele encontra uma carteira cheia de dinheiro.

Você a esta hora, já levou seus filhos na escola e estaciona seu carro algumas quadras longe de seu serviço, para poder caminhar um pouco. “Sim”, você pensa em sua saúde. Fazia bem caminhar ao amanhecer. Ao chegar ao trabalho, você cumprimenta seus amigos, marca churrascos, conta uma piada que todos acham graça e vai até seu escritório fazer aquilo para que lhe pagavam.

Fulano(a) verifica um endereço na carteira. Quem quer tivesse perdido tinha certeza da bondade de alguém que a encontrasse, caso perdida. Além dessa certeza, pelo número de notas, tal pessoa podia ter muito mais dinheiro e Fulano(a) percebe que aquela era uma chance de se dar bem. Vai até a residência do(a) distraído(a).

Você faz seu serviço e após algumas horas concentrado em seu trabalho, é hora do almoço. Você vai a um belo restaurante com seus colegas, os quais você jamais cansa da presença. Toma um bom vinho e faz sua dieta balanceada. Satisfeito e animado, vai para a faculdade, porque embora você saiba de um tudo ainda gosta de estudar, de adquirir muitos conhecimentos. Lá, depara-se com uma redação sobre pena de morte. Lógico, inteligente e cheio de argumentos, você convence seus colegas de que pena de morte é um absurdo, direitos humanos deviam prevalecer.

Fulano(a) chega à casa de(a) distraído(a). Ele(a) toca a campainha normalmente e quando uma pessoa , por sinal muito bela, abre a porta, ele não hesita em desferir um golpe com sua mais nova faca, que havia comprado com seu novo dinheiro, “uma daquelas que corta tubos de cobre”. O sangue jorra na porta de carvalho branco fazendo-a valer o dobro se em uma feira de arte moderna. Fulano(a) nota que a pessoa no chão não era o(a) distraído(a) e fecha a porta, com medo de que alguém escute os murmúrios guturais da vítima que se afoga no próprio sangue.

Você, depois da aula, vai até seu carro e na hora de retirar o dinheiro do estacionamento nota que sua carteira se perdeu. “Era uma pena”. Mas tamanha era sua popularidade e nobreza que ninguém desconfia quando você se desculpa por não estar com dinheiro, então você vai embora prometendo que amanha pagará o que deve como sua índole lhe obrigava.

Fulano(a) vasculha a casa e encontra uma criança, dormindo uma cesta, como um anjo. Ele senta na cama observando a pequena beldade enquanto pega um dos travesseiros ortopédicos na mão. “É tão macio”, ele pensa. A criança vai acordando levemente enquanto sentia algo estranho cobrir seu rosto, porém, antes que seus gritos pudessem ecoar estridentes o travesseiro, já à cobria totalmente. Esperneava, gestos curtos e fracos pediam por ajuda enquanto Fulano(a) se excitava com sua soberania.

Você chega em casa, mas não consegue acreditar no que vê. Você grita, chora. Seus parentes foram massacrados por um animal imundo, como alguém poderia ter feito o que fez? Logo aquele sentimento se transforma, você sente nojo, uma náusea forte que lhe faz vomitar em seu tapete persa. Você não consegue nem olhar para eles, você não crê. Olha nos rostos deles varias vezes, volta, olha de novo, na esperança de que eles mudem, ou que você acorde. Depois, o que eu queria, o ódio. Uma vingança incontrolável que inflama sua alma fazendo-o sentir amaldiçoado, um sentimento que talvez seja muito tarde para perceber a importância. Mas o ódio passa, você é bom demais, perdoa, falha comigo. Você acredita que o mundo vai ser melhor se abandonar seus ressentimentos e viver feliz. Certo disso e cheio de certezas você vai até sua gaveta secreta, aquela que seu filho jamais devia tocar e nunca tocar, e pega a ferramenta que só você tem, que iria trazê-los de volta, sua lâmpada mágica. É seu ultimo desejo, e você pede, para que sua família volte à vida, e todos vivem felizes para sempre, como se tudo não tivesse passado de um pesadelo.

E eu? Bem, e eu com isso?

Náufrago

Sandra de Almeida Silva

Depois daquele dia, Josias nunca mais foi o mesmo homem. Levantou da mesa e iniciou uma caminhada sem rumo. Comeu e bebeu o quanto pôde, dormiu em muitas camas, pediu emprestado e não pagou, passou a jogar. E a perder. Perdeu tudo.

Um dia, subiu num ônibus e foi bater na porta da única pessoa que poderia ajudá-lo: uma tia de meia-idade, irmã de sua falecida mãe. A mulher era boa conselheira, sabia tecer redes com palavras de consolo capazes de alçar qualquer um do fundo do poço. Era assim que ele se sentia, nas profundezas de um sumidouro, sem achar chão sob os pés. Bateu na porta, esperou, bateu de novo, e nada. Desesperou-se. Ela não estava em casa, quem sabe nem morasse mais ali, talvez tivesse morrido. A imagem da tia morta preencheu de cinza o dedal de esperança que Josias ainda conservava. Tanto tempo sem procurá-la, nem dar notícia, e agora ela, sem saber, dava-lhe o troco. Voltou para casa, o suor frio nas mãos, um torpor no corpo todo. Sua última saída tinha se fechado, não precisaria erguer um punho contra si, era só fechar os olhos e esperar. Alguém bate na porta. Josias achou inoportuno o som enérgico das batidas, um desrespeito à sua falta de vontade de viver. Trocou passos até o outro extremo do corredor escuro, agarrou-se ao trinco e abriu uma fresta. Uma nesga de sol forte entrou e iluminou o lado esquerdo do rosto do homem, exposto naquele vão timidamente concedido, cegando por um instante a visão do olho entreaberto. O carteiro entregou-lhe rapidamente um envelope grande e se foi, sem dizer palavra. Josias nem olhou para a correspondência que segurava na mão de cera: largou-a esquecida em cima da mesa, sobre a pilha de jornais velhos, espalhados e nunca lidos. O papel pardo do envelope era como uma tábua boiando no mar escuro, depois de um naufrágio, a espera de algum sobrevivente. Mas Josias já não podia perceber nada, atirou-se para sempre na poltrona velha, no canto da sala, encolhido.

Era uma carta da sua tia Jurema.

Apresentação

A Oficina de Criação Literária Uniritter foi instituída em 2007 com o objetivo de fomentar a criação literária entre a comunidade em geral, e não apenas entre os alunos da Universidade.

Ministrada por Marcelo Spalding, a oficina tem aulas multimídias, realizadas no laboratório de informática, onde os aspectos teóricos da criação são apresentados de forma dinâmica e interativa.

Esse blog foi elaborado a pedido dos alunos para publicar os melhores trabalhos produzidos na Oficina. Para muitos é a primeira experiência na aventura da publicação, mas de certo para vários deles não será a única, como comprova o talento dos textos aqui expostos.