Retas paralelas

Eclésio Fernandes dos Santos


Duas retas paralelas estão no plano euclidiano. Uma se chama Alfa, a outra Beta. Beta é bastante falante, a outra meio caladona. Estão ali, uma ao lado da outra. Beta tenta puxar assunto:

Olá, como vai?

Vou bem e você?

Estou ótima. Esse plano está meio deserto hoje. Acho que por causa do feriado todas as retas viajaram para o espaço. Eu gosto de viajar e você?

Mais ou menos.

Pausa. Silêncio no plano. Como Alfa continuou muda, a outra tenta retomar a conversa.

Para onde você vai?

Vou para o infinito. E você?

Eu também vou para o infinito. Então, podemos nos encontrar lá.

Beta não entendia muito bem a natureza das retas, ou seja, a sua própria natureza.

Acho que isso não é possível.

É claro que é. Se vamos para o infinito, é verdade que vamos nos encontrar.

Continuo achando que não. Se somos retas paralelas, então não podemos nos encontrar.

Você não gosta da minha companhia, é isso?

Não me entenda mal, não é isso. Gosto de conversar com você, da sua companhia. É que estamos no plano, entende? Não sabe como as retas são?

A outra fez cara de que não estava entendendo e, então, Alfa continuou:

Não me tome por mau. Sei que vivemos num mundo de muita correria que faz a gente se sentir meio solitária, precisando, às vezes, jogar conversa fora pra relaxar.

Ok, ok, tudo bem! Fui grosseira, desculpe-me. Acho que entendi o que você quis dizer. Mas de qualquer forma, seria bom encontrar você lá no infinito e bater um papo; pois é sempre bom conversar com outra reta. E, além do mais, não gosto de curvas. São cheias de rodeios e algumas são muito fechadas.

Encontro você no infinito, insistiu Beta.