O Dilema

Alba Catharina Morel

-Que bom que finalmente atendeste!
-O que aconteceu, amiga? Tua voz está diferente.
-Pois é. Estou sempre inventando coisas e desta vez, acho que entrei numa fria, minha amiga! Imagina que me inscrevi numa oficina de escrita criativa online. Já recorri a esse meio por sentir que na minha idade seria difícil participar de uma presencial.
-E daí? Qual o drama? Escreves bem e gostas de fazê-lo, logo o certo é aprender as técnicas para isso. Não estou entendendo.
-Vou explicar, contando com teu conselho quando perceberes em que esta velhinha gaiteira se meteu.
Neste momento Catarina respira fundo, endireita a postura e solta o verbo:
-Logo de início fiquei maravilhada com a nova experiência e naveguei feliz pelas águas da interpretação de obras de arte, os caminhos claros apontados pelo professor para entender o caprichoso bordado da criação literária. Tudo lindo, tudo ótimo. Mas logo, logo, minha amiga, me deparo com tópicos que me fazem tremer: - Não se deve ser prolixo, mas conciso dizendo muito com poucas palavras. – É sinal de incapacidade usar muitos adjetivos parecendo querer enfeitar o texto para esconder sua pobreza. Hemingway, então, atacou de frente meu estilo, sem sequer um sinal de compaixão. Depois dele: “O bom diálogo se tornou afiado e enxuto”.
-Parece que entendi: estás sentindo tua maneira de escrever meio diferente dos padrões atuais...
-Isso! Aí fico em dúvida sobre o que fazer, entendes? Será que consigo me adaptar aos novos padrões de excelência, eu que durante grande parte da vida li MDely e Coleção das Moças?!
-Catarina, eu também me emocionei com essa literatura, mas, como tu, atualmente sou admiradora de Stephen King e seus personagens e enredos assustadores, não é mesmo?
-É...
-Pois então! Não é o desafio que aprecias?
-Será?... Tenho uma ideia, amiga: Vamos desligar os telefones e nos encontrarmos ali na cafeteria da esquina da tua casa, o que achas?
-Isso mesmo, estou indo; será mais agradável debatermos o teu futuro literário saboreando um cappuccino.
***
-Catarina, vamos rever o quadro: O que sentes quando lês esses contos que, eu acho, parecem telegramas?
-Sabia que ias me entender – Fico frustrada... na boca da personagem que se deslumbra com um pôr do sol tenho vontade de por mil adjetivos sobre o rosado das nuvens, a lentidão com que o astro-rei mergulha no horizonte para uma noite de sono tranquila. Viste, amiga? Sabes como me sinto? –Orgulhosa da minha imaginação mas um tanto incomodada com a estrutura jurássica que dou aos textos, comparando aos dos outros!
-Catarina, com perdão do ditado: em Roma sejamos romanos...-Por outro lado, que mal existe em que sigas escrevendo o que tua cabecinha manda, o que teus sentimentos ditam, o que tua bagagem te oferece?
-Amiga, não me ajudaste muito, mas creio que não há mesmo o que fazer. Vou procurar um meio termo e novamente pedindo desculpas – É preciso dançar conforme a música, porém com os passos que nosso corpo ditar.
-Isso, Catarina! Ao fim de tudo o que desejas é “participar do baile, pois não? Vai em frente, sem medo e boa sorte.