O namorado

Fabricio Bernardo Pereira



- Pai, este aqui é o meu namorado, o Isaac. A gente tá junto tem alguns meses pai, e a gente se ama!
- Amanda, eu não acredito que você está namorando este, este...
- ...este garoto lindo, pai!
- Hum! Eu sei que ele é todo bonitão, parece até ator de cinema, mas...
- Ele é muito perfeito pai. Tipo, é inteligente, educado.
- Sr. Paulo, eu não poderia viver sem sua filha. Seria como o céu sem a lua e as
estrelas.
- Sei, parece que sim, Amanda... Mas como você pode ter tanta certeza de que ele
também te ama?
- Pai, eu sei que ele me ama, não é, Isaac?
- Eu amo a Amanda como ninguém, sr. Paulo. Amo seus olhos, seus cabelos, seu jeito de ser.
- Ok, ok, entendi. Ah meu Deus... Parece que esse tipo de coisa está cada vez mais
comum nos jornais e na TV, mas nunca imaginei que ia ver isso acontecer dentro da minha própria casa... Querida, como você pode achar que o conhece, que sabe quem ele é? Apesar de tudo que ele fala, ele me parece tão frio.
- Ai pai, nada a ver... Ele é ótimo, tipo assim, parece que ele conhece todos os meus pensamentos e...
- ...parece até que ele foi ensinado a fazer isso, né, querida?"
- Ah, fala sério pai, o que importa é que o Isaac é suuuper romântico, atencioso, e nem olha pra outras garotas. Eu quero muito que você o aceite.
- Amanda é o amor da minha vida, Sr. Paulo. Ela é o sol que ilumina minhas manhãs, a razão do meu viver.
- Oh, querido... Eu te amo, Isaac!
 -Eu também te amo, darling!
- Está bem, está bem... Só falta você querer beijá-lo na minha frente... Amandinha, mas ele é tão novo. Você não acha isso estranho?
- Dã, pai... Você sabe que isso não tem nada a ver. É como se ele tivesse vinte e poucos anos.
- Querida, acho muito estranho ter esta conversa com você e ele aqui ao seu lado, nos escutando.
- Ah pai! Pô, você fala como se ele não pudesse entender a gente!
- Tá bom, tá bom, querida. Mas desliga ele só um pouquinho então, pra gente poder conversar. Ou pelo menos coloca ele no sleep mode. Esses robôs me tiram do sério.

Gestação

Serafina Ferreira Machado

Quando roubaram minha história
no passado
Comecei a gestar este grito
que agora escutas.

Quando arrombaram minha casa
desde o passado
fiquei grávida de desejos
de justiça.

Quando invadiram nossas terras
fizeram buracos em nossa dignidade
fecundaram indiferença
regaram-na com nosso vermelho sangue
e com seu sêmen de branca violência.

Que rosto terá este filho?
Não terá olhos azuis-coloniais
Ou pele branco-patriarcal
Será um legitimo Soul, 
NEGRO costurado com revolta e dor.

Meu grito fe(i)to-filho age
rebela-se, levanta-se dentro de mim