Paulo de Sá
- Cem reais – disse o ambulante que tentava vender uma rede na praia, em pleno domingo.
João, que morava numa quitinete onde mal dava para esticar os braços, não tinha a menor intenção de comprar a rede. Mesmo assim, contestou:
- Caríssimo.
- Pra você eu faço por oitenta.
- Por que pra mim? Tu nem me conhece.
- Te vejo sempre aqui na praia. Oitenta.
- Caro.
- Setenta.
- Caro.
- Por menos de sessenta eu não vendo!
- Tá me achando com cara de gringo? Não vou pagar sessenta reais numa rede.
- Cinquenta. – disse baixinho o vendedor, já entregando a rede.
- Tu não disse que não vendia por menos de sessenta?
- Pra qualquer um, não. Mas pra você, eu faço cinquenta.
A brincadeira estava indo longe demais.
- Ó, meu amigo, não vou comprar rede nenhuma. Só tenho dez reais – confessou mostrando a carteira.
- Fechado.
- Hein?
- Dez reais. Como é pra você, eu vendo. Toma aí.
Ele segurou a rede, incrédulo. Pensou em recusar novamente, mas temeu a reação do ambulante.
Achou melhor cooperar e entregar o dinheiro.
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