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Borges, podemos começar?
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Começar?
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Onde está?
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Não tenho ideia...
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Na delegacia, não vê?
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Vejo que estou algemado...
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Por que está aqui?
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Não sei dizer...
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Pode fazer mais do que isso, Borges. Tomou os remédios?
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Tomei.
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Tem certeza?
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Quais remédios?
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Estes aqui na mesa, ao lado da sacola.
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...
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Não tomou... Imaginei. O Dr. Yo sabe disso? Que já não toma os remédios?
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Não, ele não sabe...
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Onde está Carla, Borges?
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Carla? “Minha” Carla?
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Apenas Carla... cadê ela?
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Em casa, eu acho... ela foi me visitar hoje...
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Então lembra?
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Lembrar de quê?
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De Carla.
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Cara, eu não sei do que você está falando!
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De Carla.
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Carla é minha namorada e está na minha casa! Ao menos é disso que me lembro!
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Como veio para cá, Borges?
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Eu não sei, porra!
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Veio por Carla. Lembra?
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Por Carla?! Ela está bem?!
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Diga.
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EU – NÃO – SEI!
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Sabe. Eu sei.
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Então me diga: cadê Carla?
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Qual parte?
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Como assim, qual parte?
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Qual parte dela você quer?
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...
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Lembra?
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Cala a boca...
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Carla já não existe mais. É estranho, não acha? Como podemos ser tão fracos,
seres tão insignificantes que, de uma hora para outra, sumimos. Carla era mais
do que insignificante, não acha?
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Você não sabe o que fala...
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Ela lembrou da época da faculdade? Lembrou do rapaz esquisito, de dentes
amarelos e tique nervoso? Ou será que a polpuda conta bancária fez com que ela
esquecesse as humilhações que causou?
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Cala a boca, seu filho da pu...
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E Ana? E Júlia? Clara e Bel? Namoradas também? Advogadas e economistas...
Mesmas faculdades de Borges. Lembra das humilhações?
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Isso tudo passou, eu superei.
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Percebo. Lembra?
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Lembrar do quê?!
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A sacola na mesa. Está vendo? Está vermelha. Quantas armas você têm?
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13 facas.
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Agora 12. Uma já era. Sangue de vaca não sai da lâmina de um artefato de
colecionador.
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O que isso quer dizer?
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Carla humilhou Borges. Borges matou Carla.
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Não pode ser...
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Sim, é... argh! Belo soco, Borges. Não é uma sensação sublime tirar o sangue de
alguém? Parece que estamos saindo de um confinamento, e libertando também a
alma de outra pessoa. Borges adora esta sensação, não é?
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...
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Escute só... Alguém está vindo te ver também, Borges.
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Sr. Eduardo Borges, eu sou o detetive Aragão e... Meu Deus, o senhor está
sangrando!
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Não foi nada, apenas um soco...
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Como assim? Seu rosto está sangrando!
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Sim, eu sei. Posso tomar meus remédios, por favor?
Instigante. É meio Clube da Luta, ou estou enganada?
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