Sabrina Sayuri Okada
Mamãe acorda cedo. A moça da farmácia disse que ela não precisava esperar amanhecer, mas essa é a minha mãe, sempre teimosa. Meu pai continua imerso no seu sono enquanto ela entra no banheiro. Pronto, agora teremos que esperar cinco minutos.
A ansiedade é tanta que ela precisa de uma
distração. Um café, um cereal ou um desenho animado na TV. Qualquer coisa que
faça parar esses deslumbres de nós dois tirando cochilos juntos e dando voltas
no parque. Afinal, é desnecessário tanta expectativa por alguém que ao certo
nem está a caminho.
O café fica pronto, mas apenas dois minutos passaram.
Caramba, essa cafeteira que a vovó deu é rápida mesmo. O papai acordou com o
cheirinho do café e achou mamãe agitada. Ela não conta, sabia que ele ia querer
espiar antes da hora.
Três minutos. Ela não consegue evitar, imagina se
deveria pintar o quarto de azul ou rosa. Ou talvez inovar usando amarelo, quem
sabe até laranja. Mamãe imagina roupinhas e sapatinhos com personagens de
desenhos da Disney. Pensou em todas as coisas na casa que eram perigosas. Eles
teriam que colocar tampões nas tomadas e portões nas escadas.
Meus pais estão na cozinha, em silêncio. Papai sabe
que quando ela acorda desse jeito, é melhor nem conversar nos primeiros minutos
do dia. Eu acho que ele já imagina o que está acontecendo, a viu chegar da
farmácia ontem. Ele lê o jornal e mamãe olha as horas no celular. Quatro
minutos. Caramba, até eu estou achando que os minutos estão se arrastando.
Minha mãe respira por um minuto, dá um gole e se
levanta. Será que eles estão preparados? Será que o dinheiro vai ser
suficiente? Será que papai ficará feliz?
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