A lei da
gravidade afirma que todo corpo é puxado para o centro da Terra e esta, por sua
vez, se move em direção aos objetos que lhe são lançados. Em Printipia essa lei
também é válida, exceto para uma situação: suicídios. Quando uma pessoa se
mata, ela não cai: ela voa.
A paisagem
repleta de corpos flutuantes aterrorizava os turistas e, com isso, os ganhos
recebidos pelos governantes com a taxa de receptação de passageiros vindos de
outros lugares teve uma queda estrondosa, fazendo com que uma ação fosse
tomada.
Em
vez de tratar o assunto como uma calamidade, o departamento de marketing de
Printipia reverteu a situação e transformou as mortes em um negócio rentável: o
lugar passou a ser conhecida como a “cidade dos corpos flutuantes”, ou, como a chamavam
na mídia, “Corpus Au Air”.
O plano
funcionou e a cidade viu as acomodações de seus hotéis ficarem lotadas: pessoas
de todos os lugares vinham tirar fotos com os famosos balões.
Todos olhavam
para o céu, maravilhados com a incrível aurora criada pelas cores das peles dos
mortos, as listras de suas roupas e a agonia de suas faces. O mundo olhava para
o alto e, por isso, não percebeu quando um corpo apareceu no centro da rua,
logo em frente ao Palácio de Printipia; mas a situação não parou por ai: dia
após dia corpos brotaram em frente ao Palácio, criando uma espécie de jardim
grotesco de cadáveres.
Printipia foi
tomada pelo furor da notícia: corpos foram encontrados, e eles não voavam.
Demorou um pouco para entenderem que a situação era atípica, pois não se
tratavam de suicídios: haviam sido assassinados.
Ao
todo foram reunidos nove corpos: todos homens. Não era necessário muito estudo
ou análise para descobrirem quem eram: antigos padres, velhos sacerdotes das
catedrais esquecidas. Em Printipia não vigorava mais nenhum tipo de religião ou
devoção, a não ser o culto ao individualismo e ao governo regente.
As
atenções estavam voltadas para o solo daquela cidade e, desta forma, apenas
após o aparecimento de uma enorme sombra junto ao castelo é que perceberam que
havia outro corpo de padre – desta vez, flutuando.
Análises
foram feitas e, assim, descoberto que todos os homens foram envenenados. Após
uma série de xícaras de café e inúmeras tarde perdidas, o quebra-cabeça foi completado:
uma carta foi encontrada junto ao corpo do padre suicida.
Segundo
ele, aqueles homens acreditavam na sua religião e a situação em que se
encontrava Printipia naquele momento era o oposto de seus ideais e de suas
convicções. Desta forma, após uma última celebração de sua fé, os padres
fizeram um pacto: durante dez dias cada um ia morrer em frente ao Palácio; mas
não se matariam, seriam mortos por seus amigos – cada padre mataria o outro. Seria
um protesto contra a cidade e seus governantes: uma mancha de sangue no tapete
verde do jardim do Palácio.
Desta
forma, dia após dia, um corpo caia no chão de Printipia e, no último dia, um
outro levantou voo. O pacto estava finalizado.
Investigações
concluídas, o departamento de marketing resolveu tomar uma atitude: preencheu
cada um dos corpos com gás e os lançou junto ao corpo do padre suicida, de modo
a formar um excêntrico monumento ao redor do Palácio.
Apesar
do ato contra a cidade de Printipia, os governados resolveram prestar uma
última homenagem aos padres: estes, estudiosos de uma religião esquecida, agora
estariam para sempre no céu, e não na terra.
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