Na praia

Margot Villas

Fazia um calor danado. Eu estava sentado sob um guarda sol observando aquele mar azul, quieto, sem coragem de levantar um dedo. Aquela tarde decidi que ficaria dias inteiros sem fazer nada. Nada mesmo. O dia estava perfeito para isto, não queria nem pensar na minha sonsa vida. A areia branca, o céu sem uma nuvem e aquele sol roxo de tão forte formou a moldura para o que aconteceria em seguida: Melissa aparecer.

Caminhando em minha direção como uma doce nuvem em formato de mulher, os cabelos compridos e negros, o biquíni branco, aquele corpo bronzeado logo me tirou daquela sensação maluca. Não era uma nuvem mesmo, as nuvens não possuem seios, nem bundas, nem cabelos.

Quando ela se aproximou, abriu seus lábios e, vagarosamente, mas muito vagarosamente perguntou o senhor têm horas? Fiquei extasiado.

Aquela pergunta mudou o rumo das minhas férias, para não dizer da vida. Todos os dias seguintes do mês de Janeiro, eu levantava da cama, tomava café rapidamente, colocava meu relógio barato e sentava no mesmo lugar da praia, esperando Melissa perguntar as horas.

Felizmente ela apareceu várias vezes e nos tornamos amigos. Até o dia fatídico em que meu mundo caiu. Estávamos conversando sobre banalidades quando um rapaz queimado do sol, alto e musculoso, com aproximadamente trinta anos, chegou por trás de Melissa e a abraçou, beijando-lhe loucamente a nuca descoberta pelo cabelo. Minha dor levaria algum tempo para desaparecer: iniciou quando vi, no rosto dela, a felicidade causada pelo gesto do rapaz. Dor de perda e de inveja, de perda porque depois daquele dia nunca mais Melissa apareceu na praia. De inveja porque o motivo da felicidade não era eu.

No resto das férias, fiquei no meu quarto de hotel olhando para o teto e pensando em Melissa. Será que ela havia comprado um relógio?

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