Sonha, Alice

Sara Cadore

Era feliz como Alice. Em uma noite gelada de chocolates quentes, algo antes inofensivo encheu seus olhos de tanta angústia. Como se não existisse um braço amoroso, desatou a chorar. Teve uma saudade incontida do que nunca viveu. Doía-lhe a falta do amor, que entre todos, não vai ter.

Pensou no super-herói que nunca apareceu, nem nas embalagens dos cereais matinais. No mocinho desconhecido que não espantou seus monstros de estimação, moradores antigos do pé da cama. No galã com quem nunca vai viver final de novela.

Lembrou que não precisava de nada disso. Ela nunca foi de comer sucrilhos, nem alimentava assombrações e, muito menos, acompanhava folhetins. Por que se lamentar agora? Desligou a TV, beijou com paixão, vestiu seu melhor sorriso e voltou ao país das maravilhas.

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