Regina Blacher
Aventura é um beijo na madrugada. Frio na espinha. Um toque de uma mão que treme e chega. Encosta. Dez mil horas, dez mil vertigens. Vervirgens. Só os virgens têm vertigens? Certamente, a primeira vertigem é a mais profunda, a que tonteia mais, a que cega mais, a que tapa o mundo.
Aquele beijo foi assim. Começou de tarde. Numa tarde. Numa tarde em que Joana entrou no bar da faculdade e Pedro vinha caminhando. Nunca soube se ele estava saindo e desistiu ou estava indo apenas até ali mesmo.
Raios saíram dos olhos dele. Chispas saíram dos olhos dela.
Tudo o que aconteceu em seguida ficou assim, determinado por aquele eixo. Eles rodaram a posição, mexeram braços, pernas, sorrisos, palavras, só não mudaram o olhar.
Os olhos de Joana tinham ficado azuis e os de Pedro, castanhos.
Com o tempo, a luz foi-se ajustando. O brilho do flash focou um lábio. Uma pestana. Uma narina respirando. Uma confusão de pedaços dele, uma confusão de pedaços dela.
Perder o controle. Dar o controle. Seguir o controle. Seguir o instinto. Instintar o controle.
Seguir aqueles olhos, seguir aquelas pernas e aqueles caracóis.
Ser seguida. Ser seguida até ser tocada e sentida e definida como uma parte de novo inteira e intensa e viva.
Tocar até encontrar a própria pele, e beijar até encontrar o próprio sopro.
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