Valécius Passos
No jantar diário só se ouvia o tilintar de garfos e facas.
Como capim, começou a crescer um muro, a partir do chão, bem no meio da mesa. Todo dia brotava um novo tijolo. A argamassa precisava de silêncio para preencher os labirintos que se formavam geometricamente entre as peças.
Assim o muro foi crescendo.
Chegou à altura da mesa e ninguém deu conta. Passou do nível dos rostos e não se notou sua presença. Subiu até quase o teto. Quando ficou escuro para um lado ele acendeu uma lamparina.
Até que o último tijolo, hermeticamente, fechou o derradeiro suspiro de convivência, enquanto ele se servia de arroz e ela abocanhava uma asa de frango.
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