Vida de herói aposentado

 

Juliano Barreto Rodrigues

O Super-Homem, já velho e cansado, substituído por outros super-heróis da moda, com roupas mais brilhantes e assessorados por seus marqueteiros profissionais, se deparou com uma situação jamais tinha cogitada em seus tempos áureos: precisava fazer um exame de próstata.

Vivendo hoje de lembranças e respondendo inúmeros processos movidos por donos de imóveis destruídos por seus embates com vilões, canais de televisão que o acusam de declarações que os prejudicaram, associações que questionam seus métodos, etc, gasta boa parte do seu tempo em reuniões com advogados e em tribunais pelo mundo. E agora isso, ter que se preocupar com um órgão que nunca pensou que existia.

Temendo os paparazzi e preocupado inclusive com sua própria auto-confiança, relutantemente marcou a consulta para o dia 20.  Como um homem da antiga, representante dos heróis do passado, preferiu ir sozinho.

O médico pediu que tirasse a sunga, depois a calça, declinasse para frente e relaxasse. Constrangido, o Homem de Aço disse:

- Doutor, vá com cuidado e, por favor, não conte a ninguém que estive aqui.

- Calma! Vou começar.

No que o médico penetrou o dedo, o super-esfíncter se contraiu de uma vez, amputando o pobre médico. Naquela situação absurda, Super-Homem passou a viver mais um dos pesadelos de sua condição: ficou exposto na mídia e responde a mais um processo de indenização milionário.

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