- Senhores jurados e demais
membros desta corte da cidade-sideral de Neo Paulo. Eu, juiz Wilson Hill, no
ano da graça de 2080, faço crer que o réu em questão será julgado com toda a
lisura e transparência que nosso supremo Estado exige. Queiram sentar-se. Que
comece o julgamento. Seu nome?
- Roberto.
- Roberto de quê?
- Roberto Hobb.
- Senhor Hobb, jura dizer a
verdade e nada mais que a absoluta verdade?
- Sim senhor.
- O senhor está sendo
acusado de homicídio pela polícia da cidade-sideral de Neo Rio pelo assassinato
de uma RoboGirl dentro de um motel-sex-space no ano de 2078.
- Senhor Meritíssimo,
declaro diante desta corte que matei em legítima defesa.
- Sua declaração é
totalmente inverossímil a esta corte, senhor Hobb uma vez que não há a menor
possibilidade de tal fato acontecer.
- Senhor Meritíssimo volto
afirmar que digo a mais absoluta verdade.
- Impossível. Está, por
acaso, tentando nos fazer passar por idiotas, senhor Hobb?
- Não, Senhor Meritíssimo. Eu
só estou dizendo que...
- Todos nós sabemos que
RoboGirls são bonecas cibernéticas criadas e rigorosamente programadas somente
para proporcionar prazer sexual. Por conseguinte é absolutamente inadmissível a
hipótese de que uma RoboGirl possa tentar contra a vida de um ser humano.
- Senhor Meritíssimo, eu
posso provar o que estou dizendo.
- Senhor Hobb, devo
lembrá-lo de que desde a assinatura do tratado de Frankfurt, em 2071, oficializando
as bonecas cibernéticas como agentes de saúde pública, tendo sua denominação de
fábrica alterada para RoboGrirl, as RoboGirl passaram a ser propriedade do
governo. Portanto senhor Hobb, todo e qualquer atentado contra um agente
oficial é, portanto, um atentado contra o próprio Estado.
- Senhor Meritíssimo, afirmo
mais uma vez que eu...
- Senhor Hobb, pelo que
consta nos autos do processo, o seu sexcard é falso. Ou seja, o senhor não tem
autorização sequer para se aproximar de uma RoboGirl. Muito menos para desprogramá-la.
Não satisfeito o senhor foi além; o senhor desativou e destruiu uma propriedade
do governo. Esta corte não terá clemência.
- Senhor Meritíssimo, o Estado
não pode condenar um homem por se defender do ataque de uma máquina.
- Não cabe ao senhor dizer o
que o Estado deve ou não deve fazer, senhor Hobb. Sabemos quem é o senhor, o
seu ataque foi premeditado. O senhor nos insulta com sua ingenuidade ao ignorar
o fato de não haver mais mulheres entre nós desde que elas foram hibernadas ou deportadas
para as colônias penais nas luas de Saturno.
- Eu odeio RoboGirls, senhor
Meritíssimo. Odeio tudo que esta corte representa. Não nego que a assassinei. Com
que prazer destrui cada peça, cada circuito e cada mecanismo daquela aberração.
Bonecas cibernéticas não são a solução para evitar a propagação do vírus
mortal. Esta corte pode me condenar. Pode me matar se quiser. A nossa causa não
morrerá comigo. Ela já foi disseminada por todas as cidades-siderais. Outros se
levantarão em prol da resistência. A guerra já foi declarada.
- Senhor Hobb, quanto à sua
causa inútil devo informá-lo de que o Estado já providenciou medidas
coercitivas para neutralizar e eliminar o seu bando de subversivos– o juiz se
vira para o público e para o júri - Diante de tal declaração tão peremptória e
de todas as provas anexadas nos autos do processo. Este júri, esta corte e o
poder a mim conferido pelo nosso sagrado Estado, declararam que o réu foi
condenado à pena de expulsão perpétua. O senhor foi sentenciado a viver exilado
em um satélite prisional de Júpiter sentença que deverá ser cumprida total e
integralmente desde já. O réu Poderá ser visitado esporadicamente sob a
vigilância ampla geral e irrestrita da aliança interplanetária dos estados intergalácticos.
Declaro encerrada esta audiência.
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