Bianca Vasco
- Esse
jardim continua um encanto, não é?
-
Desculpe. Você falou comigo? - perguntou a senhora que, assim como eu, estava
contemplando a beleza do jardim.
- Eu
disse que este jardim é um encanto. Desculpe, às vezes tenho a mania de pensar
alto. Sempre que posso venho aqui para refletir. E a senhora? Mora por aqui?
- Ah,
sim. Imaginei que estivesse pensando alto. Acho que sim. Bem, pelo menos sempre
estou por aqui. Aqui é tão lindo. Por isso meus pés sempre me puxam para cá –
respondeu com um sorriso caloroso enquanto arrumava com demasia a presilha em
seus cabelos grisalhos.
- Então
a senhora deve conhecer muito sobre a história deste lugar. Está vendo aquela
árvore com flores brancas à direita do lago? É uma acácia-branca. Foi minha mãe
que plantou quando eu nasci.
As outras duas árvores dessa espécie que estão
próximas ao balanço representam o nascimento de minhas outras irmãs. Ela dizia
que esta era a árvore da vida. Esse jardim foi criado por ideia dela. Sempre
foi uma visionária. Hoje ele já não está no auge da sua beleza. Os moradores do
bairro não deram prosseguimento a ideia dela, mas tudo aqui me faz lembrar
tanto da minha infância que não consigo imaginar este lugar sem ele. Consegue
sentir a paz que ele proporciona só por estarmos aqui?
- Sim. É
um lugar bonito. Um lugar de paz e bonito.
- É o
lugar dela. – Minha voz sai como um sussurro.
- Você
está chorando, minha jovem? Tudo bem com você?
- Sim,
tudo bem. É que tudo aqui me lembra tanto dela.
- Sinto
muito. Ela foi para o céu?
- Ela
veio de lá. É um ser angelical.
-
Entendo. Ela foi uma sortuda por ter uma filha assim. Eu não tive filhos.
Gostaria muito de ter tido uma filha como você.
- Na
verdade, nem sempre fui uma boa filha. Por isso cumpro a promessa que fiz a
ela. Ah, espere um momento. As flores estão tão lindas. – Consigo recolher
algumas flores após subir um pouco no muro próximo ao lago - Tome. Uma
lembrancinha para a senhora por me aturar nesta linda manhã. Um pequeno
ramalhete das flores da Acácia.
- Ah,
muito obrigada, minha querida! Tão
lindas!
-
Sim.
- Vou
guardá-las com muito carinho. Que menina especial você é. Tem até uma árvore
própria. Ah, você não me disse a promessa
que fez à sua mãe.
- Bem,
eu prometi a ela que quando ela não se lembrasse de quase mais nada, eu sempre
a levaria para o lugar que ela mais amava e sempre daria a flor que inspirou o
meu nome.
Senti um calafrio daqueles... Inesperado!!! Muito bom
ResponderExcluirExcelente esse final surpreendente.
ResponderExcluirTexto lindo, muito emocionante!
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