Mayra Pelissari
E então noivamos. O plano era nos casarmos dali um ano e meio. Perfeito para planejarmos igreja e tudo o que engloba uma festa de casamento dos nossos sonhos dentro dos nossos limites financeiros, afinal a prioridade era a moradia. Começamos então a pesquisar na internet apartamentos pequenos em bairros que fossem perto dos nossos trabalhos e de fácil acesso para visitar nossas famílias. Havia muitas ofertas e de preços variados. Demoramos mais ou menos um mês até acharmos o nosso ponto de equilíbrio, afinal o que era ótimo para mim era bom ou até mesmo irrelevante para ele e vice e versa.
Passada essa
fase inicial, passamos para as visitações. Era um sonho se tornando realidade. Cada
apartamento que entrávamos, mesmo que alguma coisa não me agradava logo de
cara, já conseguia imaginar do nosso jeito. Como que ficariam acomodadas as
nossas coisas e como seria a nossa vida ali. Teríamos um gato ou um cachorro?
Melhor um vaso de planta. Receberíamos mais amigos dele ou mais os meus para as
pizzas e os vinhos? Não importa. Ele concordaria em me dar mais portas do
armário? Tenho tantos sapatos e bolsas! O importante mesmo era nossa parceria
durar. Foram mais alguns meses nesse “calvário” da triagem física. Visitações e
mais visitações. Conversas e mais conversas. Testes e mais testes no
relacionamento pré casamento.
Numa certa
quinta-feira, ele me ligou. O corretor havia entrado em contato com ele dizendo
que tinha surgido uma oportunidade única. Um apartamento um pouco fora da rota original
e também um pouco fora da faixa de preço que havíamos estipulado, porém não nos
arrependeríamos pelo espaço de convívio social, pelos armários embutidos na
cozinha e área de serviço. Sem contar os armários de ótima qualidade dos
quartos e a varanda pequena e aconchegante. Decidimos então ir visitar no
sábado, afinal só nos custaria tempo e gasolina.
Quando entramos
no apartamento, algo me deixou curiosa. Conforme íamos avançando, crescia em
mim um sentimento de não parar. E eu não parava. Explorei sozinha cada cômodo.
Até chegar na varanda. Por lá fiquei com sentimentos e pensamentos vagando
dentro de mim. Estávamos no 12º andar. Eu olhei para baixo e foi fascinante. Tive
vontade de me atirar. De que forma eu cairia naquele chão? De que forma chorariam
a minha morte? De que forma eu sentiria a queda? Eu me arrependeria no meio da
queda? E se me arrependesse, como eu faria para voltar? E se acontecesse um
fenômeno e eu voaria? Meu Deus! Qual seria essa sensação? Qual seria o primeiro
lugar para o qual eu me conduziria?
Senti uma leve
vibração, mas que fez meu corpo ir um pouco para a frente mesmo que meus pés
não se movessem. Por alguns instantes tive a sensação que fui atraída pelas
minhas questões e meu corpo obedeceu, mas meus pés não deixaram. Escutei meu
nome bem ao longe e um toque carinhoso em meu braço. Era ele me chamando para
ir embora. A vibração sentida foi o corpo dele chegando perto.
Segurei minha bolsa como se estivesse me agarrando de volta à vida e talvez sentindo um pouco de tontura. Cruzei a sala sem móvel e saí do apartamento sem resposta alguma para as perguntas que tinha feito a mim mesma momentos antes.
Segurei minha bolsa como se estivesse me agarrando de volta à vida e talvez sentindo um pouco de tontura. Cruzei a sala sem móvel e saí do apartamento sem resposta alguma para as perguntas que tinha feito a mim mesma momentos antes.