E eu com isso?

K.'.I.'.N.'.G.'

Você acorda de manhã, com o sol acariciando seu rosto suavemente, dizendo que aquele seria um bom dia. Seu amor já se levantou e não demora até que traga um belíssimo café na cama, uma gentileza quase diária. Seu filho, já preparado, espera-o para irem à escola juntos, sempre bem animado e disposto. Você pega seu carro, com uma tecnologia que polui bem menos que a maioria, e inicia seu agitado dia.

Fulano(a) acorda com o sol quadrado, dando seu sorriso dourado, anunciando que para ele(a) aquele também era um dia ótimo. Ele caminha lentamente pelos corredores onde seus colegas, agora ex, dormem tranquilamente sonhando com a “liberdade”. Ele(a) vai até a porta de seu cárcere e se despede com um gesto raivoso de seu dedo. Passeia na cidade imaginando como será, quanto tempo durará sua vida ali fora, e de repente, como se o destino tivesse conspirado à seu favor, ele encontra uma carteira cheia de dinheiro.

Você a esta hora, já levou seus filhos na escola e estaciona seu carro algumas quadras longe de seu serviço, para poder caminhar um pouco. “Sim”, você pensa em sua saúde. Fazia bem caminhar ao amanhecer. Ao chegar ao trabalho, você cumprimenta seus amigos, marca churrascos, conta uma piada que todos acham graça e vai até seu escritório fazer aquilo para que lhe pagavam.

Fulano(a) verifica um endereço na carteira. Quem quer tivesse perdido tinha certeza da bondade de alguém que a encontrasse, caso perdida. Além dessa certeza, pelo número de notas, tal pessoa podia ter muito mais dinheiro e Fulano(a) percebe que aquela era uma chance de se dar bem. Vai até a residência do(a) distraído(a).

Você faz seu serviço e após algumas horas concentrado em seu trabalho, é hora do almoço. Você vai a um belo restaurante com seus colegas, os quais você jamais cansa da presença. Toma um bom vinho e faz sua dieta balanceada. Satisfeito e animado, vai para a faculdade, porque embora você saiba de um tudo ainda gosta de estudar, de adquirir muitos conhecimentos. Lá, depara-se com uma redação sobre pena de morte. Lógico, inteligente e cheio de argumentos, você convence seus colegas de que pena de morte é um absurdo, direitos humanos deviam prevalecer.

Fulano(a) chega à casa de(a) distraído(a). Ele(a) toca a campainha normalmente e quando uma pessoa , por sinal muito bela, abre a porta, ele não hesita em desferir um golpe com sua mais nova faca, que havia comprado com seu novo dinheiro, “uma daquelas que corta tubos de cobre”. O sangue jorra na porta de carvalho branco fazendo-a valer o dobro se em uma feira de arte moderna. Fulano(a) nota que a pessoa no chão não era o(a) distraído(a) e fecha a porta, com medo de que alguém escute os murmúrios guturais da vítima que se afoga no próprio sangue.

Você, depois da aula, vai até seu carro e na hora de retirar o dinheiro do estacionamento nota que sua carteira se perdeu. “Era uma pena”. Mas tamanha era sua popularidade e nobreza que ninguém desconfia quando você se desculpa por não estar com dinheiro, então você vai embora prometendo que amanha pagará o que deve como sua índole lhe obrigava.

Fulano(a) vasculha a casa e encontra uma criança, dormindo uma cesta, como um anjo. Ele senta na cama observando a pequena beldade enquanto pega um dos travesseiros ortopédicos na mão. “É tão macio”, ele pensa. A criança vai acordando levemente enquanto sentia algo estranho cobrir seu rosto, porém, antes que seus gritos pudessem ecoar estridentes o travesseiro, já à cobria totalmente. Esperneava, gestos curtos e fracos pediam por ajuda enquanto Fulano(a) se excitava com sua soberania.

Você chega em casa, mas não consegue acreditar no que vê. Você grita, chora. Seus parentes foram massacrados por um animal imundo, como alguém poderia ter feito o que fez? Logo aquele sentimento se transforma, você sente nojo, uma náusea forte que lhe faz vomitar em seu tapete persa. Você não consegue nem olhar para eles, você não crê. Olha nos rostos deles varias vezes, volta, olha de novo, na esperança de que eles mudem, ou que você acorde. Depois, o que eu queria, o ódio. Uma vingança incontrolável que inflama sua alma fazendo-o sentir amaldiçoado, um sentimento que talvez seja muito tarde para perceber a importância. Mas o ódio passa, você é bom demais, perdoa, falha comigo. Você acredita que o mundo vai ser melhor se abandonar seus ressentimentos e viver feliz. Certo disso e cheio de certezas você vai até sua gaveta secreta, aquela que seu filho jamais devia tocar e nunca tocar, e pega a ferramenta que só você tem, que iria trazê-los de volta, sua lâmpada mágica. É seu ultimo desejo, e você pede, para que sua família volte à vida, e todos vivem felizes para sempre, como se tudo não tivesse passado de um pesadelo.

E eu? Bem, e eu com isso?

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