Luiz Fernando Farina Keller
“Mas chê loco!” – Exclamou Rodrigo, ao chegar à capital.
Em sua face era notório o espanto. Encontrava-se deveras abismado com as inovações nunca vistas em sua terra, principalmente com as cascas de ferro que deslizavam sobre quatro rodas e as pequenas vestimentas das moças que viu pelas estradas, cheias de placas, supreendentemente pintadas de preto e tracejadas de amarelo.
Apesar do encanto e dos inúmeros questionamentos que fervilhavam em seu porongo, estava cansado das batalhas diárias e da longa viagem. Queria apenas um trago e uma mulher: havia dois meses que não tinha uma.
Para tanto, troteou um pouco mais e, após avistar uma fila de prendas lindas de pele à mostra e de rapazotes de roupas esquisitas, amarrou o cavalo, pensando consigo: “Cheio de afrescalhados! Esses inventos não fazem bem pro índio!”. Deu-lhe dois tapas fortes de despedida e partiu em direção ao bolicho.
Rodrigo passou ao longo da fila, inclinando respeitosamente o rosto: “Buenas noches, senhoritas!”
Ao chegar na entrada, riu em voz alta: “Dublin? Mais parece nome de bicho. Mas pela quantidade de china, deve tá loco de bom lá dentro!”
Distraído, o segurança que monitorava os perfilados não notou que o cidadão de poncho azul, chapéu às costas e lenço encarnado havia furado a fila. Ainda não o havia visto, mas diante do silêncio dos demais, não questionou a sua chegada. Estranhou sua roupa, mas, a fim de acelerar seu trabalho, foi direto:
“Nome?” – Perguntou o funcionário, cabisbaixo, pronto para anotar na comanda.
“Capitão Rodrigo Cambará, amigo. Aperte os ossos!” - Estendeu a mão o gaudério, com um sorriso no rosto.
O funcionário não entendeu muita coisa, mas compreendeu o gesto e cumprimentou-lhe.
“Bonito o seu bolicho! Suponho que a sua graça seja Dublin.” – Complementou o Capitão, reforçando o U da primeira sílaba.
O funcionário gargalhou, apertou-lhe a mão novamente e entregou-lhe a comanda: “Figuraça! Pode subir que os garçons vão lhe atender”.
Rodrigou estranhou o papel que recebeu, mas o guardou, entendo-o como um mimo. Subiu uma pequena escadaria que dá acesso ao galpão, analisando ostensivamente as mulheres, mantendo a sua postura ao chegar ao final do curso:
“Buenas e me espalho! Só não completo meu cumprimento porque só tem fresco neste pago!” – Entoou alto.
Poucas pessoas o ouviram, pois o volume da música era muito alto, mas as que o notaram, olharam-no com o canto dos olhos, censurando seu comportamento.
Após desmanchar um pouco do seu sorriso irônico, Rodrigo abancou-se. Esparramado, chamou o garçon: “Amigo! Me vê uma canha da buena! Ligeiro!”
Enquanto o funcionário dirigia-se para dentro do galpão, a fim de cumprir a sua ordem, passou uma linda mulher por trás do Capitão. Atento, com sua mão esquerda, segurou-a forte pelo braço direito e a galanteou, olhando-a profundamente, mas sem retirar aquela meia lua do rosto:
“És muy bela, senhorita! Senta-te ao meu lado e vamos prosear um pouco."
A moça apreciou seu porte e sua pegada, porém, estava de saída: “Olha... não posso, mas me dá o MSN para conversarmos”.
O capitão gostou da resposta. O sorriso de canto de rosto foi vagarosamente às orelhas. Virou para o lado e gritou: “Amigo, desce 10 eme-esse-enes aí pra china, que hoje vai ter!!!"
Êta índio veio! Continua em forma!
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