Domingo no Parque

Alexandre Braoios

José. Feirante. Típico “cara do bem”. Simpático e bonachão. Domingo era seu dia de descer ao inferno. Madrugava. Enfrentava o sol. Maldizia não poder ir mais cedo ao parque.

João. Amigo de José. Pedreiro. Exatamente o oposto de José. Domingo era dia de subir ao céu. Por um dia deixava as encrencas e o mal humor. Ia cedo para o parque, paquerava todas as meninas. Mas tinha sua preferida.

Juliana. Menina moça. Criada para casar. Morava na roça. Vida dura, mas feliz. Romântica. Dividida entre a simpatia de José e a masculinidade de João.

Já passava das duas horas. José chegou ao parque e seus olhos, rapidamente, correram todos os rostos. Avistou Juliana de braço dado com João na fila da roda gigante.

Juliana e João dividiam o mesmo sorvete de morango. Puro pretexto para um beijo indireto. Sentaram-se e a roda girou. Sorrisos, abraços e a enorme rosa na mão de Juliana. Como se fossem dardos, os espinhos cravejaram de modo certeiro o alvo. O peito ofegante de José. Por um instante os tons de vermelho se fundiram. A rosa, o sorvete, o batom. E o vermelho tingiu seus olhos.

Juntou os tons. Faca desembainhada. Três passos, uma estocada. De Juliana, mais um tom de vermelho brotou e ajudou a compor a tela sombria. Rosa. Sorvete. Batom. Sangue.

Jeremias, um maconheiro sem vergonha que passava por ali, em vão tentou segurar José. Mais uma estocada. Mais um tom. Vermelho muito escuro. João tombou.

Jaziam juntos. Já era tarde. José de joelhos. Faca na mão. Sangue na alma. Nesse domingo José virou João. João foi José. E Juliana, sempre Juliana, vislumbrou como um raio o fim dos domingos, que anunciavam sempre mudanças. A roda parou de girar.

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