Mulher como te vejo



Maria de Lourdes Chauffai

É mãe, filha, tia ou prima
Trabalha fora e em casa
Onde mantem o bom clima
Mas, deixa acesa a brasa.
Corre para arrumar as crianças
Faz o lanche para o recreio
E limpa todas as lambanças
Cuidando até do problema alheio.
Se é Ana, alivia a angústia e afaga a alma de alguém.
Se é Beatriz, beija a beleza do benzinho no berço.
Se é Camila, caminha calmamente construindo sua carreira.
Se é Denise, desfaz a desilusão da dolorosa derrota.
Se é Elisa, entrega o elixir a seu elegante elenco.

É madrasta, sogra, esposaou neta
Lava roupas, faz comida.
Gosta de andar de bicicleta
E aguar a linda margarida.
Discute com o gerente do banco
O cheque foi devolvido
De raiva, quase bate o tamanco
E pode dar a isso um apelido.
Se é Fernanda, felicita com fervor o fabuloso feito da família.
Se é Gertrudes, gesticula na gigantesca ginástica germinativa.
Se é Helena, hesita hipnotizar o hercúleo homem.
Se é Iara, iguala a índole incrédula dos ímpios.
Se é Judite, com juízo justifica o juramento de justiça.

É avó, sobrinha, enteada ou nora
Prende botão, passa ecerze roupa.
Pinta os olhos, penteia o cabelo.
Não pode sair desalinhada como louca
Seja lá qual for o atropelo.
Se é Laura, labuta na lide levando a láurea.
Se é Maria, marcha machucada mastigando a mágoa.
Se é Nair, navega num navio de névoas e nervuras
Se é Ofélia, oferece oferendas no ofertório.
Se é Patrícia, pacatamente pacifica a paciente.

É amiga, amante ou a outra
Age sempre como profissional
Não carrega culpa, mas fica cansada.
Ainda acha tempo paraa caminhada.
Lê e sonha com lugares paradisíacos
Todavia a realidade da sua estrada
Nunca a leva além do cheiro de amoníaco.
Se é Quitéria, quita quieta a questão da quinta.
Se é Renata, renasce rente à relva, resignada.
Se é Silvia, silencia o silvo do símio silvestre.

É irmã, companheira ou afilhada
Com tal empreitada se sente ilhada
Dos filhos que tanto amou
Apenas lembrança restou.
Se é Úrsula, urge usar a urca e usufruir de utopia.
Se é Vera, verbaliza a verdade sem vergonha.
Sé Xênia, xinga o xale que xumbrega o xaxado.
Se é Zilda, ziguezagueia zonza com o zumbido zureta.  
Mulher é tudo ou é nada
Depende do nome e da jornada.



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